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Atividade antimicrobiana, antiaderente e antifúngica in vitro de plantas medicinais brasileiras sobre microrganismos do biofilme dental e cepas do gênero Candida

Pollianna Muniz AlvesI; Lélia Maria Guedes QueirozII; Jozinete Vieira PereiraIII; Maria do Socorro Vieira PereiraIV

IPrograma de Pós-graduação em Patologia Oral, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN IIDepartamento de Odontologia, Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, PB IIIPrograma de Pós-Graduação em Odontologia, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB IVDepartamento de Biologia Molecular. Centro de Ciencias Exatas e da Natureza, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB

DOI: 10.1590/S0037-86822009000200028


RESUMO

Avaliou-se in vitro a atividade antimicrobiana, antifúngica e antiaderente da aroeira-do-sertão, malva e goiabeira sobre microrganismos do biofilme dental e candidose oral. Os extratos mostraram-se eficazes, inibindo o crescimento das bactérias do biofilme dental e fungos da candidose oral, sugerindo a utilização dessas plantas como meio alternativo na terapêutica odontológica.

Palavras-chaves: Biofilme dental. Plantas medicinais. Streptococcus.Lactobacillus.Candida.


ABSTRACT

The antimicrobial, antifungal and antiadherent activity of aroeira-do-sertão, mallow and guava tree on oral biofilm microorganisms and oral candidiasis was evaluated in vitro. The extracts were shown to be effective in inhibiting the growth of bacteria of the oral biofilm and fungi of oral candidiasis, thus suggesting that these extracts can be used as alternative means of dental therapy.

Key-words: Oral biofilm. Medicinal Plants. Streptococcus. Lactobacillus. Candida.


 

 

O biofilme dental é o fator de maior importância na etiologia da cárie e das doenças periodontais, e há uma relação muito grande com a higiene bucal deficiente8. A remoção mecânica constitui o método mais aceito para o seu controle, mas o uso de coadjuvantes químicos é bastante valioso6. A candidose bucal é uma infecção causada pela levedura do gênero Candida, a qual é um microrganismo saprófito, que, na dependência de fatores predisponentes, torna-se patogênico9. Vários agentes antifúngicos são utilizados em seu tratamento, como também a clorexidina, mas devido os efeitos colaterais decorrentes do uso prolongado, a sua utilização permanece restrita7.

Diversos produtos de origem vegetal mostram ser potencialmente interessante, no que se refere a sua atividade antimicrobiana12. Dentre estas se destacam a malva, a aroeira e a goiabeira. A malva (Malva Sylvestris) apresenta propriedades diuréticas e expectorantes, podendo também ser utilizada no tratamento de inflamações das mucosas4. A aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva All) possui crescente uso farmacológico, pois na sua entrecasca são constatados a presença de Urundeuva A, Urundeuva B e taninos1. A Psidium guajava Linn (goiabeira) é bastante utilizada em casos de diarréia, mas possui também atividade antimicrobiana, antifúngica e antitussígena10. Assim sendo, o propósito deste estudo foi verificar in vitro a atividade antimicrobiana, antiaderente e antifúngica dos extratos vegetais da malva, aroeira-do-sertão e da goiabeira, na prevenção de formação do biofilme dental e proliferação de cepas do gênero Candida.

A matéria prima (folha da goiabeira e da malva, e casca do caule da aroeira-do-sertão) foi obtida em mercado público, e identificada botanicamente no Laboratório de Toxicologia. Posteriormente, foram separados os materiais e levados à secagem em estufa a 33ºC, durante uma semana, para eliminação de umidade e estabilização do conteúdo enzimático. Em seguida, o material foi triturado e submetido à extração dos princípios ativos, através da lixiviação. Utilizou-se linhagens padronizadas de Streptococcus mutans, Streptococcus mitis, Streptococcus sanguis, Streptococcus sobrinus, Lactobacillus casei, Candida albicans, Candida tropicalis, Candida stelatoidea e Candida krusei.

A atividade antimicrobiana e antifúngica foram determinadas pelo método de difusão em meio sólido, proposta por Bauer, Kirbi, Sherris e Turck2 para a determinação da concentração inibitória mínima (CIM). Foi considerada como CIM a menor concentração dos extratos que inibiu completamente o crescimento dos microrganismos, ou seja, presença do halo de inibição. A concentração inibitória mínima de aderência (CIMA) foi determinada utilizando-se o método proposto por Gebara, Zardetto e Mayer5. A concentração inibitória mínima de aderência foi definida como a menor concentração do extrato que impediu a aderência bacteriana ao tubo de vidro. Todos os extratos foram diluídos em concentrações crescentes até 1: 512. Os mesmos procedimentos foram realizados com o gluconato de clorexidina a 0,12% (controle positivo), bem como com uma solução hidroalcóolica a 80% (controle negativo).

Em relação aos resultados da concentração inibitória mínima, observou-se que todas as linhagens demonstraram serem sensíveis aos extratos hidroalcoólicos analisados, conforme mostra a Tabela 1. Quanto ao extrato da aroeira-do-sertão, o Lactobacillus casei foi o mais sensível. Fato de grande importância, pois se sabe que este é o microrganismo responsável pela consolidação e aumento da consistência do biofilme. E quando associado ao Streptococcus mutans contribui no processo de formação da cárie dentária11.

 

 

Na Tabela 1, também se observa que o Streptococcus mutans foi o mais sensível ao extrato da Psidium guajava Linn. Com relação ao extrato da malva, observou-se que o Streptococcus mutanse o Streptococcus sobrinus foram os mais sensíveis. Dados esses de grande importância, pois se sabe que a espécie Streptococcus mutans é encontrada em mais de 80% dos indivíduos, e que o Streptococcus sobrinus exibe uma maior cariogenicidade em superfícies lisas devido à maior produção de glucanos insolúveis5.

Tabela 2 mostra que os três extratos apresentaram atividade antiaderente. Atividade esta representada pela ausência de aderência da bactéria a parede do tubo de vidro, demonstrando a capacidade dos extratos de inibir a síntese do glucano pela glicosiltransferase. Estes resultados obtidos são bastante promissores uma vez que os microrganismos analisados são os maiores responsáveis pela formação do biofilme dental.

 

 

Gebara, Zardetto e Mayer5 observaram ausência de atividade antimicrobiana e antiaderente da malva. Diferentemente dos nossos resultados, onde a malva além de exercer atividade antimicrobiana, mostrou-se também efetivo na inibição da síntese de glucanos, sobre todos os microrganismos analisados.

Na avaliação da atividade antifúngica observou-se que o extrato da aroeira-do-sertão apresentou atividade antifúngica sobre as cepas de Candida albicans, Candida tropicalis e Candida krusei (Tabela 3). Estes resultados são de grande valia, pois a Candida albicans e Candida krusei, entre outras espécies, têm sido detectadas como patogênicas nos casos de candidose bucal, principalmente naqueles relacionados à imunossupressão9. A malva e a goiabeira apresentaram atividade antifúngica sobre as quatro cepas de Candida analisadas (Tabela 3), semelhantemente aos resultados encontrados por Cárceres, Fletes e Aguilar3.

 

 

Neste sentido, os resultados obtidos mostram ser de grande valia a realização de pesquisas in vivo, para que desta forma, os extratos da aroeira-do-sertão, goiabeira e malva possam ser utilizadas, clinicamente, no tratamento da candidose oral e na prevenção de formação do biofilme dental. Concluindo, os resultados obtidos neste estudo mostram a importância das indicações terapêuticas das plantas medicinais como método alternativo e de baixo custo, à nível de produção, na clínica odontológica, uma vez que os extratos hidroalcóolicos da aroeira-do-sertão, goiabeira e malva apresentaram in vitro potencial atividade antimicrobiana e antiaderente sobre os microrganismos formadores no biofilme dental, como também demonstraram atividade antifúngica sobre cepas de Candida isoladas da cavidade oral.

 

REFERÊNCIAS

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3. Cárceres A. Plants used in guatemala for the treatment of gastrointestinal disorders. 3. Confirmation of activity against enterobacterial plants. Journal Ethnopharmacology 38:31-38, 1993.         [ Links ]

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 Endereço para correspondência:
Dra. Polliana Muniz Alves
Programa de Pós-Graduação em Patologia Oral/Faculdade de Odontologia/UFRN
Av. Salgado Filho 1787, Lagoa Nova
59056-000 Natal, RN
Tel: 55 84 3215-4138/3215-4108
e-mail: polliannaalves@ig.com.br

Recebido para publicação em 08/02/2008
Aceito em 06/03/2009