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Resistência a antifúngicos de Candida tropicalis isoladas no Estado do Ceará

Everardo Albuquerque Menezes; Luana Guabiraba Mendes; Francisco Afrânio Cunha

Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, Faculdade de Farmácia Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE

DOI: 10.1590/S0037-86822009000300024


RESUMO

Neste estudo, foi avaliada a resistência a drogas antifúngicas em 51 cepas de Candida tropicalisisoladas de amostras clínicas no Estado do Ceará, Brasil. Resistência antifúngica foi um evento raro no nosso estudo e foi restrita a 3 (5,9%) das cepas de Candida tropicalis, que exibiram resistência a fluconazol e itraconazol.

Palavras-chaves: Candida tropicalis. Agentes antifúngicos. Teste de disco difusão.


ABSTRACT

In this study, the resistance to antifungal drugs was investigated among 51 strains of Candida tropicalis isolated from clinical samples in the State of Ceará, Brazil. Antifungal resistance was a rare finding in our study and was restricted to three (5.9%) of the strains of Candida tropicalis. These exhibited resistance to both fluconazole and itraconazole.

Key-words: Candida tropicalis. Antifungal agents. Disk diffusion test.


 

 

Candida tropicalis é uma agente freqüente de candidemia em hospitais brasileiros, sendo a segunda espécie mais comumente isolada. A infecção por esse agente pode ocorrer em pacientes de todas as idades, mas acomete pacientes adultos e idosos com maior freqüência10.

Casuísticas do Brasil confirmam que as três espécies mais prevalentes isoladas de urina em pacientes hospitalizados são: Candida albicans, Candida tropicalis e Candida glabrata. Estes estudos demonstram prevalências de 35,5 a 70% para Candida albicans; 4,6 a 52,5% para Candida tropicalis e 7 a 8,8% para Candida glabrata5 11 12.

O aumento da resistência a antifúngicos alerta para a necessidade do desenvolvimento de estratégias que evitem a sua disseminação entre os fungos, como já ocorreu com as bactérias, que se encontra disseminada e fora de controle1. A resistência aos azólicos em cepas de Candida tropicalis é devido ao aumento da expressão do gene ERG11, associada com uma mutação missense nesse gene15.

Avaliar a resistência a agentes antifúngicos utilizando o teste de microdiluição é trabalhoso e caro. O teste de disco difusão com discos de fluconazol utilizando meio Mueller-Hinton ágar com 2% de glicose e 0,5mg/mL de azul de metileno é adequado para procedimentos laboratoriais de triagem da resistência de cepas de Candida. Os resultados devem ser lidos após 24h. Esse método possui boa acurácia e é de baixo custo podendo ser acrescentado na rotina clínica laboratorial6.

O objetivo desse estudo foi avaliar a resistência de Candida tropicalis isoladas no ano de 2008 de amostras clínicas no Ceará pela técnica de disco difusão.

Foram testadas 51 amostras de Candida tropicalis provenientes de pacientes internados no Hospital Geral de Fortaleza. As cepas fazem parte da coleção de Leveduras do Laboratório de Microbiologia da Universidade Federal do Ceará. As amostras estavam congeladas em meio nutriente caldo com 20% de glicerol e armazenadas a -20 ºC. As cepas foram descongeladas e inoculadas em ágar batata dextrose e incubadas a 35ºC por 24/48h. A identificação das leveduras foi realizada em meio cromógeno Agar Hicrome Candida® (Mumbai-Índia) e confirmada com o teste do microcultivo em ágar arroz com tween 809.

A sensibilidade das cepas de Candida tropicalis foi avaliada pelo método de disco difusão em ágar em meio Mueller-Hinton adicionado de 2% glicose e 0,5µg/mL de azul de metileno de acordo com o protocolo M44-4 do The Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI)2. Os discos de antifúngicos utilizados neste estudo foram produzidos em nosso laboratório utilizando drogas padrões: anfotericina B, fluconazol e itraconazol (Sigma Chemical Company, St Louis, Mo). O fluconazol e o itraconazol foram diluídos em água e a anfotericina B foi diluída em dimetilsulfóxido (DMSO). Após a diluição as drogas foram colocadas em discos de papel de filtro de 13mm e colocadas na estufa a 35ºC por 24h. As concentrações dos antifúngicos nos discos foram: fluconazol 25µg, anfotericina B 100µg e itraconazol 30µg. As cepas foram classificadas de acordo com seu perfil de sensibilidade em: sensível (S), sensível dose dependente (SDD) e resistente (R)4. Como controles, foram utilizadas as cepas de Candida albicans ATCC 10231, Candida albicansATCC 14053 e Candida parapsilosis ATCC 22019.

O perfil de sensibilidade a antifúngicos pode ser observado na Tabela 1. Não foram detectadas neste estudo cepas de Candida tropicalis resistentes à anfotericina B. Foram detectadas 3 (5,9%) cepas de Candida tropicalis resistentes ao fluconazol, duas cepas isoladas de urina e uma isolada de sangue. Foram detectadas 3 (5,9%) cepas de Candida tropicalis resistentes ao itraconazol, duas cepas isoladas de urina e uma isolada de sangue. As cepas resistentes ao fluconazol também foram resistentes ao itraconazol (Tabela 1).

 

 

Algumas cepas de Candida tropicalis são resistentes ao fluconazol e a outros agentes antifúngicos3. Em um estudo com 188 cepas de Candida tropicalis isoladas de candidemia apenas uma foi resistente ao fluconazol10.

Candida tropicalis foi a causa mais comum de fungemia em estudo realizado com pacientes hematológicos. Doença disseminada foi comum e resultou em elevada mortalidade7.

Em um estudo com 100 amostras de leveduras, isoladas de urina, provenientes de Hospital Público Infantil de São Paulo Brasil, no período de 1999-2004, as espécies mais freqüentes foram Candida albicans, seguida de Candida tropicalis, Candida glabrata Candida parapsilosis14.

Um total de 2.949 de Candida spp foram testadas pelo método de disco difusão e pelo método de referência de microdiluição em caldo. Foram obtidos concordância de 92,8% entre os métodos. O teste de disco difusão foi excelente para detectar cepas de Candida spp. resistentes aos antifúngicos13.

A resistência a azólicos entre cepas de Candida tropicalis isoladas no estado do Ceará ainda é baixa e o teste de disco de difusão é uma alternativa ao método de referência sendo mais prático e menos oneroso8.

 

REFERÊNCIAS

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 Endereço para Correspondência:
Prof. Everardo A. Menezes
Rua Capitão Francisco Pedro 1210, Rodolfo Teófilo
60430-370 Fortaleza, CE
Tel: 55 85 3366-8266
e-mail: menezes@ufc.br

Recebido para publicação em 12/01/2009
Aceito em 14/04/2009
Projeto Financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Processo. 473417/2007.