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Amadeu Cury (*1917 †2008)

Aluízio Prata

Professor de Medicina Tropical da Universidade Federal do Triângulo Mineiro

DOI: 10.1590/S0037-86822008000500023


Faleceu em Brasília, no dia 17 de maio de 2008, o professor Amadeu Cury. Ele nasceu em Guaxupé, Minas Gerais, em 13 de maio de 1917. Fez os estudos básicos em Uberlândia e o Curso de Medicina, no Rio de Janeiro, na então Universidade do Brasil, entre 1937 e 1942, onde recebeu o Prêmio Berchon dês Essarts, concedido ao aluno com melhor desempenho em todo o Curso de Medicina. No ano de 1943, matriculou-se no Tradicional Curso de Aplicação do Instituto Oswaldo Cruz, obtendo o primeiro lugar no concurso realizado para admissão. Em 1947, ingressou como docente na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde permaneceu por 24 anos. Na UFRJ, foi chefe do Departamento de Microbiologia Geral do Instituto de Microbiologia, membro do Conselho de Pesquisa e Ensino para Graduados, membro do Conselho Universitário, Pró-reitor do Conselho de Pesquisa e Ensino para Graduados, Vice-diretor (1960 – 1965) e Diretor (1966 – 1971). Quando era Diretor, em fevereiro de 1970, organizou e coordenou todo o processo de credenciamento do Curso de Pós-graduação, a nível de Mestrado e Doutorado, em Microbiologia, sendo este o primeiro curso de Pós-graduação Strictu sensu do Brasil credenciado pelo Conselho Federal de Educação. Organizou e chefiou o Primeiro Laboratório de Fisiologia de Microorganismos no Brasil, no Instituto de Microbiologia Geral da UFRJ. Do seu laboratório, no Departamento de Microbiologia Geral saíram os nossos primeiros microbiologistas e gerações subseqüentes dos mesmos.

Cury assumiu a Reitoria da Universidade de Brasília (UnB), em 1971. Uma de suas primeiras providências na UnB foi a aprovação dos Cursos de Graduação pelo Conselho Federal de Educação. Foi Presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras e na UnB exerceu o cargo de Decano de Pesquisa e Pós-graduação entre 1976 – 1979 e 1981 – 1984.

Além de suas atividades docentes, Amadeu Cury desempenhou papel importante no apoio às primeiras ações das entidades nacionais de incentivo à pesquisa (como o CNPq) e à formação de pessoal de nível superior (como a CAPES). No Conselho Nacional de Pesquisas e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), em 1952, foi assessor do Departamento Técnico-científico e Diretor do Setor de Biologia, durante 15 anos, foi membro do Conselho Deliberativo do CNPq e de 1969 a 1974, presidiu a Comissão de Pós-graduação do CNPq que identificou e selecionou mais de cem Centros de Excelência. O trabalho desta Comissão foi o início do financiamento e a consolidação da Pós-graduação no Brasil, essencial para a obtenção do nível de excelência atual. Ainda como membro do CNPq, Cury auxiliou na consolidação de duas importantes instituições localizadas no norte do país: o Instituo Nacional de Pesquisas da Amazônia e o Museu Paraense Emílio Goeldi.

Na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), foi membro do Conselho Deliberativo e, inclusive, seu Presidente. Cury foi Assessor Especial da Diretoria e da Presidência da CAPES, entre 1984 e 2007. A partir de 1991, coordenou o Projeto Norte de Pesquisas e Pós-graduação que foi essencial para o desenvolvimento das atividades de ensino e pesquisa no norte do país.

Durante 22 anos, participou da Diretoria da Academia Brasileira de Ciências, sendo Primeiro Secretário, Tesoureiro, Secretário-Geral e Vice-presidente. De 1991 a 2004, foi o representante dessa Academia em Brasília.

Foi sócio-fundador da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Ainda pertenceu a inúmeras sociedades científicas nacionais e internacionais, como a American Academy of Microbiology, The New York Academy of Science, Biomedical Society (Inglaterra) e Society for General Microbiology (Inglaterra). Suas linhas de pesquisa mais importantes foram na área de Micologia, Micopatologia e Análise Microbiológica de Alimentos, sobre as quais publicou mais de 60 trabalhos em periódicos nacionais e no exterior. Com Hutner e Becker, publicou um trabalho clássico sobre dosagens microbiológicas (Anal Chemi 30: 849-867, 1958). Com Travassos, publicou uma revisão de impacto sobre leveduras termofílicas (Ann Rev Microbiol 25: 49-74, 1971).

Na Universidade de Brasília, reestruturou e criou novos Departamentos, procurando atrair novos professores para criação de novos cursos. Sempre estimulou e ajudou na implantação de programas relacionados às Doenças Infecciosas e Parasitárias. Auxiliou decisivamente no planejamento e na construção das Instalações do Núcleo de Medicina Tropical, em Brasília.

Participou como membro e chefe de várias delegações em missão no exterior para cooperação científica (EEUU, França, Itália, Dinamarca, Portugal, Venezuela e Peru).

Cury foi agraciado com muitas distinções, como o Diploma e Medalha de Ouro do Instituto Oswaldo Cruz, Ordem Nacional do Mérito Educativo, Ordem Rio Branco, Ordem de Mérito de Brasília, Ordem Nacional do Mérito Científico (Grã Cruz) e Prêmio Anísio Teixeira, Ordem Judiciária do Trabalho, Medalha de ouro da Inconfidência.

Homem correto, simples, afável e bem humorado. Desprovido de apego excessivo a bens materiais, limitava-se a sorrir quando na intimidade, a título de brincadeira, se lhe dizia que, neste aspecto, não havia saído aos seus ancestrais. Foi casado com Dra. Gilda de Góes Cury por 70 anos, com quem compartilhou suas atividades didáticas e científicas.

Em suas ações, sempre vislumbrou o desejo de contribuir para um mundo cada vez melhor. Era um amigo leal. Sua falta será sentida por todos que tiveram o privilégio de com ele conviver.