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Avaliação da atividade in vitro do meropenem contra cepas de Klebsiella pneumoniae produtoras de betalactamases de espectro expandido isoladas na cidade de Fortaleza, Ceará

Everardo Albuquerque MenezesI; Kaline Medeiros do NascimentoII; Karla Pimenta SoaresII; Lia Nascimento AmorimII; José Gadelha Lima NetoII; Francisco Afrânio CunhaI

ILaboratório de Microbiologia, Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE IIDepartamento de Química, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE

DOI: 10.1590/S0037-86822007000300021


RESUMO

Betalactamases de espectro estendido são mediadas por plasmídios. Essas enzimas possuem a habilidade de hidrolizar antibióticos b-lactâmicos. Nesse estudo, avaliamos a atividade in vitro do meropenem contra cepas de Klebsiella pneumoniae produtoras de ESBLs. Foram estudadas 14 cepas. A susceptibilidade dessas cepas para o meropenem foi de 100%.

Palavras-chaves: Klebsiella pneumoniae. Betalactamases de espectro expandido. Meropenem.


ABSTRACT

Extended-spectrum b-lactamases are plasmid-mediated. These enzymes have the ability to hydrolyze b-lactam antibiotics. In this study, we evaluated the in vitro activity of meropenem against ESBL-producing Klebsiella pneumoniae strains. Fourteen strains were studied. The susceptibility of these strains to meropenem was 100%.

Key-words: Klebsiella pneumoniae. Extended-spectrum b-lactamases. Meropenem.


 

 

O tratamento de infecções causadas por cepas de Klebsiella pneumoniae tem se tornado difícil pela existência de cepas carregando plasmidios, que codificam enzimas conhecidas como betalactamases, conferindo resistência a drogas betalactâmicas. Esta situação tem aumentado e causado sérios problemas em nível mundial com taxas de incidência variando de 5% nos Estados Unidos4 e 16% na Europa12; incidências maiores têm sido observadas em surtos epidêmicos hospitalares2. Adicionalmente, tem-se observado que cepas produtoras de betalactamases também apresentam resistência a outras classes de drogas antimicrobianas, como as fluoroquinolonas1Klebsiella pneumoniae é conhecida por muitos médicos como causa de pneumonia comunitária, ocorrendo principalmente em pacientes imunocomprometidos9.

Em unidades pediátricas, infecções hospitalares por Klebsiella spp são consideradas um problema importante em crianças prematuras4. A incidência de cepas de Klebsiella pneumoniae produzindo enzimas betalactamases de espectro expandido (ESBLs), nos Estados Unidos situa-se em torno de 5%1. Na Europa, esta prevalência pode situar em torno de 14% a 16%12. As ESBLs são geralmente transmitidas através de plasmídios. Como os plasmídios são facilmente transmitidos entre diferentes membros das enterobactérias, a acumulação de genes de resistência resulta em cepas que possuem plasmídios que codificam para multirresistência2. As ESBLs produzidas por Klebsiella pneumoniae são a principal causa de aumento da resistência às cefalosporinas4.

O meropenem é uma droga da classe das carbapenemas apresentando amplo espectro bacteriano. O meropenem apresenta uma considerável estabilidade frente à ESBLs, sendo, portanto, uma das escolhas nas infecções causadas por cepas produtoras de ESBLs. A literatura relata surtos infecções por bactérias resistentes ao meropenem11.

O objetivo desse estudo foi avaliar a atividade in vitro do meropenem frente as cepas de Klebsiella pneumoniae produtoras de ESBLs isoladas de pacientes em Fortaleza, Ceará.

Foram avaliadas cepas de Klebsiella pneumoniae oriundas de amostras colhidas de pacientes internados em um Hospital de Fortaleza no ano de 2005 e mantidas em uma coleção no Laboratório de Microbiologia do Departamento de Análises Clínicas. As bactérias foram identificadas por provas bioquímicas tradicionais8. As cepas identificadas como Klebsiella pneumoniae foram inoculadas em meio MacConkey modificado contendo ceftazidima 2mg/L13. As Klebsiella pneumoniae que apresentaram crescimento nesse meio eram sugestivas de produtoras de ESBLs. O teste confirmatório foi realizado com o duplo disco de ceftazidima e amoxicilina+ácido clavulânico em meio Mueller-Hinton ágar5. As cepas positivas para ESBLs foram submetidas a determinação do MIC com o meropenem. Foi realizado o teste de difusão com discos de meropenem de 10µg em ágar Mueller-Hinton. A concentração inibitória minima (CIM) foi determinado utilizado a microdiluição em caldo utilizando o meio Muller-Hinton suplementado com cátions5 6. A faixa testada de meropenem variou de 0,06 a 64µg/mL. O meropenem foi gentilmente doado pela Astra-Zeneca. Como controle foi utilizado a cepa de Escherichia coli ATCC 25922 não produtora de ESBLs.

Das cepas avaliadas foram selecionadas 14 cepas de Klebsiella pneumoniae e os resultados estão mostrados na Tabela 1. Para o meropenem a literatura preconiza que cepas com MIC < 4µg/mL e halo > 16mm são consideradas sensíveis3. Todas as cepas mostraram-se sensíveis ao meropenem.

 

 

Em um estudo realizado com 25 hospitais europeus no qual foram avaliadas 215 cepas de Klebsiella pneumoniae ficou evidenciado uma sensibilidade de 99,5% dessas cepas para o meropenem7.

Em um estudo realizado na Turquia, com 54 cepas de Klebsiella pneumoniae produtoras de ESBls, ficou evidenciado uma sensibilidade de 100% dessas cepas para o meropenem3. Em um estudo reunindo 15 hospitais americanos, foram analisadas 281 cepas de Klebsiella pneumoniaeprodutoras de ESBLs, entre essas cepas foi encontrado 99,6% de sensibilidade ao meropenem10.

De acordo com os resultados mostrados em nosso estudo é possível concluir que o meropenem apresenta boa atividade in vitro contra cepas de Klebsiella pneumoniae produtoras de ESBLs.

 

REFERÊNCIAS

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 Endereço para correspondência:
Prof. Everardo Albuquerque Menezes
Rua Capitão Francisco Pedro 1210, Rodolfo Teófilo
60430-370 Fortaleza, CE, Brasil
Tel: +55 85 3366-8266
e-mail: menezes@ufc.br

Recebido para publicação em 12/6/2006
Aceito em 17/1/2007