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Ocorrência de Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar em pacientes ambulatoriais de Recife, PE

Antônio DouradoI; Amélia MacielII; Ivanize da Silva AcaII

IAcadêmico do Curso de Biomedicina do Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE IIDepartamento de Medicina Tropical do Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE

DOI: 10.1590/S0037-86822006000400015


RESUMO

Este trabalho teve como objetivo determinar a ocorrência das espécies Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar em amostras clínicas de pacientes ambulatoriais de Pernambuco. Neste estudo, foi utilizado o teste imunoenzimático específico para Entamoeba histolytica, que entre os 213 pacientes não identificou nenhuma amostra fecal positiva. Estes resultados confirmam Entamoeba dispar é a espécie dominante nesta região.

Palavras-chaves: Amebíase. Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar. Diagnóstico imunológico.


ABSTRACT

The objective this study was to determine the occurrence of the species Entamoeba histolytica/Entamoeba díspar in clinical samples of ambulatory patients in Pernambuco. A specific assay for Entamoeba histolytica was used in this study, which identified no positive fecal samples among the 213 patients. These results confirm that E. dispar is the dominant species in Pernambuco State.

Key-words: Amebiasis. Entamoeba histolytica/Entamoeba dispar. Immunological diagnosis.


 

 

A amebíase é uma infecção causada por um protozoário sarcomastigota, classe sarcodina, gêneroEntamoeba. Entre as sete espécies encontradas no trato gastrointestinal, a Entamoeba histolyticaé a única que causa doença invasiva, com prevalência elevada em regiões tropicais, principalmente em comunidades que vivem em condições sanitárias inadequadas11.

Dados epidemiológicos da Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que a Entamoeba histolytica causa aproximadamente 100 mil mortes por ano, infectando 500 milhões de pessoas em todo mundo11.

A infecção pela E. histolytica/E. dispar apresenta ampla distribuição geográfica, sendo a maioria dos casos concentrados na América do Norte (México), Central e do Sul, África, Índia, Iran e Vietnam. Contudo, em países de clima temperado, com baixas condições de higiene, a prevalência também é alta5.

No Brasil, estudos epidemiológicos têm demonstrado que os índices de prevalência como a sintomatologia da amebíase tem grande diversidade, variando de região para região. Nas regiões Sul e Sudeste, a prevalência de E. histolytica/E. dispar varia de 2,5 a 11%, na Região Amazônica atinge 19% e nas demais regiões cerca de 10%5 6 . Em Manaus, o índice da infecção é cerca de 21,5%2, enquanto em Belém é de 25,2%9.

Em Pernambuco, a prevalência do complexo E.histolytica/E. dispar é variável. Na Região Metropolitana do Recife (18%); em Palmares, Zona Canavieira (31,5%) e em Bodocó, Zona Semi-árida (36,3%)1. Entretanto, até o presente, nenhum caso de infecção devido a E. histolytica foi detectado6 7.

O objetivo deste estudo foi analisar a ocorrência de casos de Entamoeba histolytica/E.dispar em pacientes ambulatoriais, provenientes de hospitais públicos, utilizando para o diagnóstico, métodos parasitológicos e imunológicos.

No período de agosto a novembro de 2003, foram estudadas 213 amostras fecais, sendo 134 de pacientes atendidos em ambulatórios no Hospital da Polícia Militar de Pernambuco (HPMP) e 79 amostras de pacientes do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (HC/UFPE), residentes na Grande Recife e em outros municípios de Pernambuco. Todas as amostras foram coletadas no período da manhã e conduzidas para o laboratório da Disciplina de Microbiologia e Imunologia da UFPE, onde foram processadas.

Para análise laboratorial, utilizou-se as técnicas coproparasitológicas de exame direto e o método de concentração de Ritchie (formol-éter) modificado. As amostras positivas para E. histolytica/E. dispar foram submetidas a testes imunoenzimáticos para adesina galactose, específica da E. histolytica, utilizando ELISA kit E. histolytica II. Este método tem como princípio a capacidade de detectar antígenos nas fezes, lectina específica para Gal/GalNac mediante o uso de antilectina3.

Dos 213 exames coproparasitológicos realizados, 42 (19,7%) foram positivos para algum tipo de parasita intestinal. Destes, 24 (17,9%) foram das 134 amostras do HPMPE e 18 (22,8%) das 79 amostras do HC-UFPE.

Das 213 amostras analisadas, 10 (4,7%) apresentaram E. histolytica/E. dispar, sendo 4 (3%) das 134 amostras do HPMPE e 6 (7,6%) das 79 do HC-UFPE. Todas foram negativas para a E. histolytica pelo método de ELISA. Este índice foi compatível com outros trabalhos em Pernambuco; por exemplo, 4,1% para moradores de Macaparana e 13% para crianças do Recife7. Porém, estudos anteriores demonstraram índices superiores, como 18% em Recife, 31,5% em Palmares e 36,3% em Bodocó1.

Dados epidemiológicos de pacientes residentes em Belém, Pará, mostraram alto (25,2%) índice de infecção9, semelhante aos índices encontrados nos pacientes estudados em Manaus, que demonstraram uma ocorrência de 21,5% para E. histolytica/E. dispar2. Todavia, em pacientes ambulatoriais do Conjunto Hospitalar de Sorocaba4, foram encontrados índices abaixo de 1%. Em Porto Alegre, foi descrita uma prevalência de 1,6% em pacientes atendidos no Hospital da Divina Providência8.

Os resultados encontrados corroboram vários trabalhos, realizados anteriormente em Pernambuco1 6 7 10, que demonstraram, através de análises bioquímicas, imunoenzimáticas, imunológicas e genéticas, que a E. dispar é a espécie dominante em nossa região. Portanto, a ocorrência da amebíase em Pernambuco é rara. Entretanto, estudos parasitológicos, imunológicos e genéticos são necessários devido à migração de possíveis portadores infectados pela Entamoeba histolytica de outras regiões endêmicas.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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 Endereço para correspondência:
Profª Amélia Maciel
Deptº de Medicina Tropical/UFPE
Av. Prof. Moraes Rego s/n, Cidade Universitária
50732-970 Recife, PE, Brasil
Tel: 55 81 2126-8526
e-mail: amaciel@ufpe.br

Recebido para publicação em 19/7/2005
Aceito em 15/5/2006