Rodrigo Soares Mainardi; José Rafael Modolo; Anee Valéria Mendonça Stachissini; Carlos Roberto Padovani; Hélio Langoni
Departamento de Higiene Veterinária e Saúde Pública da Disciplina Planejamento de Saúde Animal e Veterinária Preventiva da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade do Estado de São Paulo, Botucatu, SP
RESUMO
Foi colhido um total de 442 soros em rebanhos caprinos de sete regiões do Estado de São Paulo e testados para anticorpos contra Toxoplasma gondii pela reação de imunofluorescência indireta. Em todos os rebanhos, foram encontrados caprinos reagentes, totalizando 64 (14,5%) animais com sorologia positiva em diferentes capris.
Palavras-chaves: Caprinos. Toxoplasmose. Toxoplasma gondii. Imunofluorescência indireta. Prevalência.
ABSTRACT
Four hundred forty-two serum samples were collected from dairy goats in seven regions of São Paulo State. These were tested for Toxoplasma gondii antibodies using the indirect immunofluorescent antibody test. Sixty-four (14,5%) serologically positive animals were found from all these goat farms studied.
Key-words: Caprine. Toxoplasmosis. Toxoplasma gondii. Indirect immunofluorescent antibody test. Prevalence.
A toxoplasmose tem como agente etiológico o Toxoplasma gondii, protozoário que pode infectar a maioria dos animais homeotérmicos, e pode causar abortos em animais, entre os quais caprinos e ovinos, e em seres humanos1 5.
Os caprinos são seriamente acometidos e sua infecção, durante a prenhez, pode ocasionar vários transtornos, acarretando grandes perdas econômicas aos caprinocultores6.
Diversos inquéritos sorológicos já foram realizados no Brasil com variação na soropositividade de 28,9% a 92,4% nos rebanhos, mostrando sua alta prevalência4 9 10.
Neste estudo, foi realizado inquérito sorológico em cabras leiteiras do Estado de São Paulo para detectar Toxoplasma gondii, pela reação de imunofluorescência indireta (RIFI).
Amostragem. Foram colhidas amostras de sangue de 442 caprinos adultos para realização de exames sorológicos, em criações leiteiras de sete regiões do Estado de São Paulo.
Colheita de sangue. As amostras foram colhidas por venopunção jugular, em tubos de Vacutainer estéreis, sem anticoagulante. Os tubos foram centrifugados a 2 mil rpm, por 10 minutos, e os soros obtidos foram estocados a -20ºC até o processamento no Laboratório de Zoonoses da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/UNESP, Botucatu/SP.
Método sorológico. As amostras foram avaliadas pela RIFI, utilizando-se conjugado anti-IgG específico para caprinos, marcado com isotiocianato de fluoresceína, produzido no Laboratório de Zoonoses da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/UNESP, Botucatu, SP, em conjunto com o Centro de Controle de Zoonoses da Prefeitura Municipal de São Paulo. O exame foi conduzido segundo a técnica descrita por Camargo2, utilizando as diluições 1:16, 1:64, 1:256, 1:1024 e 1:4096. Foram considerados como amostras positivas os soros que apresentaram títulos iguais ou superiores a 1:16.
Análise estatística. A taxa de ocorrência de toxoplasmose nos rebanhos foi determinada por meio da construção dos limites de 95% de confiança para a proporção de sucessos da distribuição binomial12.
Quanto ao estudo da associação entre a região de coleta de dados e a ocorrência de toxoplasmose nestes rebanhos, foi utilizado o teste de Goodman para contrastes entre e dentro de populações binomiais7 8.
Todas as discussões foram realizadas no nível de 5% de significância.
Observou-se positividade para toxoplasmose nas sete regiões analisadas, indicando uma taxa de 14,47% de positividade nos animais estudados. Esses resultados são inferiores aos obtidos por outros autores, em outras regiões, que, utilizando-se de várias provas imunodiagnósticas, entre as quais a reação de imunofluorescência indireta, encontraram uma variação de 28,9% a 92,4% de soropositividade4 9 10. A variação na taxa de positividade dos exames sorológicos ocorreu entre 4,1% e 37%, sendo a maior porcentagem observada na região de Botucatu (Tabela 1) e, a menor, em Jaboticabal. A taxa média de positividade encontra-se situada entre os valores 11,2% e 17,7%, no nível de 95% de confiança.
De acordo com a Tabela 2, os resultados mostram que há diferenças significativas na ocorrência de toxoplasmose entre os municípios, assim como entre a positividade e na negatividade para a enfermidade.
Botucatu é um município em que não houve diferença significativa entre positividade e negatividade, isto é, a freqüência da enfermidade é casual, o que não ocorre nos demais municípios estudados, onde se observa uma freqüência de negatividade sistematicamente superior à positividade.
A Tabela 2 mostra ainda que não há diferença significativa de ocorrência entre os municípios de Jaboticabal, São Lourenço da Serra, Atibaia e Araçoiaba da Serra. Da mesma forma, entre os municípios de São Lourenço da Serra, Araçoiaba da Serra, Atibaia, Pindamonhangaba e Ourinhos, e ainda, entre os municípios de Botucatu, Pindamonhangaba, Ourinhos, Atibaia e Araçoiaba da Serra.
A demonstração da ocorrência de casos humanos de toxoplasmose, associada à ingestão de leite de cabras in natura, comprovadamente infectadas, torna esses animais importantes fontes de infecção para a enfermidade, principalmente devido aos caprinos não serem normalmente submetidos a controle sanitário, no que se refere à infecção por Toxoplasma gondii3 11.
A prevalência de toxoplasmose, observada no presente estudo, evidencia a disseminação da enfermidade no Estado de São Paulo, o que gera uma situação preocupante, que poderá não somente limitar o desenvolvimento da caprinocultura, mas, ao mesmo tempo, colocar em grande risco a saúde dos consumidores, principalmente que se servem de leite in natura.
Assim, há necessidade de um planejamento de saúde animal na origem da cadeia de produção, dentro da porteira, e da conscientização dos produtores para transformarem seu produto em fator positivo para a saúde animal e pública, e que também possam atender às exigências sanitárias.
AGRADECIMENTOS
À pós-graduanda Bárbara Lima Simioni Leite, ao residente Marco Antônio Natal Vigilato e à técnica Tânia Maria Martins, pelo suporte técnico, e à Fundação de Amparo a Pesquisa de São Paulo, pelo auxílio financeiro.
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Endereço para correspondência
Prof. José Rafael Módolo
Depto. de Higiene Vetrinária e Saúde Pública/FMVZ/UNESP
Caixa Postal 524
18618-000 Botucatu, SP
Tel: 14 3811-6270, Fax: 14 3811-6075
E-mail: jrmodolo@fmvz.unesp.br
Recebido para publicação em 29/4/2002
Aceito em 16/12/2003
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