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Tratamentos antimoniais da leishmaniose

DOI: 10.1590/S0037-86822005000500018


Senhor Editor:

Em um excelente e meticuloso artigo (Retrospective study of 151 patients with cutaneous leishmaniasis treated with meglumine antimoniate. Rev Soc Bras Med Trop 38 (3):213-217, 2005), Schubach e colaboradores fazem a revisão de tratamentos antimoniais da leishmaniose e chegam à conclusão de que tratamentos com doses baixas de antimônio merecem ser objeto de maior número de ensaios clínicos.

Esta conclusão não nos surpreende visto que, desde a década de 80 (há cerca de 25 anos portanto) já vínhamos trabalhando com esta possibilidade e em 1987 relatávamos nossos primeiros resultados no 17º Congresso Internacional de Dermatologia em Berlim Ocidental. Em trabalho publicado em 1996 (Mem Inst Oswaldo Cruz 91:207-209, 1996), já revelávamos nossas observações de que doses baixas eram efetivas na leishmaniose do Estado do Rio de Janeiro. Este trabalho preliminar motivou estudos posteriores, citados pelos autores (Rev Inst Med Trop São Paulo 42: 321-325, 2000; Am J Trop Med Hyg 57:651-655, 1997; Path Biol 45:496-499, 1997), os quais vieram a confirmar a eficácia das doses baixas.

Desde aquela época procuramos alertar a comunidade científica através de inúmeras comunicações em Congressos, sejam no Brasil sejam no exterior (17º Congresso Internacional de Dermatologia, 1987 – Berlim; 50º Congresso Brasileiro de Dermatologia, 1995 – Belém, Pará; XIV Reunião sobre Pesquisa Básica em Doença de Chagas, 1997 – Caxambu, Minas Gerais, 55º Congresso Brasileiro de Dermatologia, 2000 – Salvador, Bahia; 20º Congresso Internacional de Dermatologia, 2002 – Paris, França, entre muitas outras comunicações).

Vale lembrar ainda, fato não mencionado no artigo de Schubach e colaboradores, que encontramos igualmente bons resultados em tratamentos intralesionais (Int J Dermatol 36:463-468, 1997) nos quais a dose de antimônio é mínima.

Nos parece, portanto, que a conclusão do referido artigo merece um outro foco, ou seja, deveria ser mais abrangente, sugerindo que ensaios clínicos com doses baixas fossem levados a efeito sobretudo em outras áreas endêmicas, pois no Rio de Janeiro já temos suficientes evidências do bom resultado destas doses. A investigação em outras áreas endêmicas foi sugerida várias vezes por nós ao Ministério da Saúde mas nunca obtivemos êxito. O grupo de Schubach e colaboradores poderia conseguir junto ao Ministério aquilo que nunca conseguimos.

Rio de Janeiro, 6 de junho de 2005

 

 

Manoel Paes de Oliveira Neto
Ambulatório de Leishmaniose do Serviço de Especialidades Clínicas do Departamento de Doenças Infecciosas do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, RJ, Brasil