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Comportamento em cultura e diagnóstico morfológico da Emmonsia crescens em tatus

Vitorino Modesto dos Santos

Departamento de Clínica Médica e Curso de Pós-graduação em Patologia da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil

DOI: 10.1590/S0037-86821999000300015


Ao Editor: A associação de infecções pela Emmonsia crescens e Coccidioides immitis tem sido referida há mais de meio século. Aronson et al1 relataram que 92% das crianças numa reserva indígena norte-americana apresentavam teste da coccidioidina positivo, sem qualquer evidência clínica de doença1. Estudando 303 roedores silvestres na mesma área, Emmons e Ashburn encontraram 128 (42%) com infecção por fungos2. Em tecidos de 117 dos animais, a E. parva foi vista em 92 (78,6%) casos, o C. immitis em 16 (13,7%) e os dois fungos em 9 (7,7%).

Recentemente, Moraes et al descreveram novo caso brasileiro de coccidioidomicose pulmonar3, infecção que na maioria dos casos é benígna, evolui assintomática ou confundida com outras afecções respiratórias. Devido à grande semelhança de aspectos clínicos e radiológicos, a presença da E. crescens e do C. immitis nos pulmões pode ser confundida com outras doenças incluindo a tuberculose miliar, a paracoccidioidomicose e a histoplasmose. As freqüências da adiaspiromicose e da coccidioidomicose certamente têm sido subestimadas; haja visto que, após o primeiro relato de adiaspiromicose pulmonar em paciente do Hospital Escola da FMTM4, mais dois casos foram confirmados em nosso meio.

Coccidioidomicose pulmonar humana e canina têm ocorrido após caçadas de tatus, devido à inalação de conídios do fungo com a poeira da terra revolvida5. Está bem estabelecida a relação dessas micoses com roedores que cavam e vivem em tocas; entretanto, não se sabe o papel do tatu – mamífero fossador por excelência, apesar de não-roedor e desdentado – no ciclo natural da adiaspiromicose. Para testar a hipótese de que a real incidência da adiaspiromicose é maior do que se estima, iniciamos estudo de aspectos morfológicos, morfométricos e comportamento em meios de cultura para avaliar a presença da Emmonsia através de vários métodos de exame histopatológico, além de semeadura de tecido pulmonar de tatus (D. novemcinctus) naturalmente infectados. O objetivo proposto é facilitar o reconhecimento dos fungos em tecidos e, também, esclarecer eventual papel do tatu no ciclo biológico dos agentes de ambas micoses no Brasil.

 

 

1. Aronson JD, Saylor RM, Parr EO. Relationship of coccidioidomycosis to calcified pulmonary nodules. Archives of Pathology 34:31-48, 1942.

2. Emmons CW, Ashburn LL. The isolation of Haplosporangium parvum n.sp and Coccidioides immitis from wild rodents. Their relationship to coccidioidomycosis. Public Health Reports 57:1715-1727, 1942.

3. Moraes MAP, Martins RLM, Leal IIR, Rocha IS, Medeiros Junior P. Coccidioidomicose: novo caso brasileiro. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 31:559-562, 1998.

4. Santos VM, Santana JH, Adad SJ, Lopes GP, Fatureto MC. Adiaspiromicose pulmonar disseminada. Relato de caso. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 30:397-400, 1997.

5. Wanke B. Coccidioidomicose. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 27 (supl. IV):375-378, 1994.

Vitorino Modesto dos Santos

Departamento de Clínica Médica e Curso de Pós-graduação em Patologia da Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro, Uberaba, MG, Brasil
Recebido para publicação em 25/1/99.