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Paracoccidioidomicose e câncer. Freqüência da associação em estudo de necropsias

Yvelise Terezinha Morato da Conceição

DOI: 10.1590/S0037-86821998000600019


A associação entre câncer e paracoccidioidomicose tem merecido a atenção dos estudiosos da micose desde 1933. A imensa maioria dos trabalhos publicados é constituída de relatos de casos, isolados ou no contexto de estudos clínico-epidemiológicos de casuísticas hospitalares da paracoccidioidomicose. A escassez de estudos controlados, visando estudar a associação entre câncer e paracoccidioidomicose, motivou a realização do presente trabalho.

Foi realizado um estudo retrospectivo durante um período de 18 anos (1974-1991), através de consulta aos relatórios de necropsia do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, tendo sido considerados os casos de câncer no grupo geral de necropsias e no grupo de pacientes com paracoccidioidomicose. O diagnóstico da micose baseou-se em método micológico e/ou histopatológico e/ou sorológico. Foram registrados os seguintes dados: idade, sexo, forma clínica e localização das lesões da paracoccidioidomicose, tipo histológico e localização anatômica das neoplasias, intervalo entre o diagnóstico das duas doenças e causas de óbito. Foram excluídos do estudo pacientes soropositivos para o vírus da imunodeficiência humana adquirida (HIV) e as crianças menores de 14 anos.

Em 22.409 pacientes submetidos à necropsia foram observados 4.372 casos de câncer, doze dos quais ocorreram entre 85 pacientes com paracoccidioidomicose.

Este trabalho permitiu as seguintes conclusões:

1. A diferença entre a freqüência de neoplasias malignas no grupo de pacientes com paracoccidioidomicose e no grupo geral de pacientes necropsiados não foi estatisticamente significante pelo teste do qui quadrado (p = 0,26).

2. A distribuição, segundo o sexo, das neoplasias associadas à paracoccidioidomicose foi semelhante à do grupo geral de necropsias. Considerando- se a distribuição por faixa etária o maior percentual de neoplasias ocorreu, em freqüência similar, nos pacientes com idade superior a 44 anos, em ambos os grupos.

3. As neoplasias pulmonares e de linhagem linfohematopoética predominaram tanto no grupo geral de necropsias (11% e 21,3% respectivamente) quanto no grupo de paracoccidioidomicose (41,7% e 25% respectivamente).

4. Formas graves ou disseminadas da paracoccidioidomicose foram raras, tendo ocorrido em apenas dois casos.

5. Na grande maioria dos casos a paracoccidioidomicose não foi considerada fator determinante do óbito, que teve nos quadros infecciosos a causa imediata mais comum e nas neoplasias a causa básica de todos os óbitos.

Paracoccidioidomycosis and cancer. Frequency of this association in autopsy studies

The association between cancer and paracoccidioidomycosis has drawn the attention of medical mycologists since 1933. However most published studies on the subject consist either of isolated case reports or clinical and epidemiological data collected from hospital-based cohorts of patients with paracoccidioidomycosis. Therefore the lack of controlled studies regarding the relationship between cancer and paracoccidioidomycosis has encouraged the present investigation.

We carried out a retrospective study of autopsy records from the Department of Pathology, School of Medicine, University of São Paulo in an 18-year period (1974-1991) in search of cancer cases both in the group of patients with paracoccidioidomycosis and in the general autopsy record group. Paracoccidioidomycosis was diagnosed based on mycological and/or serologic and/or histopathologic evidence. Information was collected on the following variables: age, sex, clinical manifestations, anatomic site and histopathology of malignancies, time interval between the diagnosis of both diseases and cause of death. HIV-infected patients and children under 14 years of age were excluded from the study.

Out of 22,409 reviewed autopsies, 4,372 cases of cancer were identified, 12 of which occurred among 85 patients with paracoccidioidomycosis.

The study has supported the following conclusions:

1. No statistically significant difference was seen in the frequency of malignancies between the group of patients with paracoccidioidomycosis and the general autopsy record group (chi square test, p = 0.26).

2. Malignancies associated with paracoccidioidomycosis presented sex distributions similar to that seen in the general autopsy record group. As far as age distribution is concerned most malignancies occurred with similar frequencies in patients over 44 years of age, in both groups.

3. Lung cancer and hematologic malignancies were predominant both in the general autopsy record group (11% and 21.3% respectively) and in the group of patients with paracoccidioidomycosis (41.7% and 25% respectively).

4. Severe or disseminated forms of paracoccidioidomycosis were rarely seen (2 cases).

5. In most cases of the present study paracoccidioidomycosis was not regarded as a determinative factor leading to mortality. Death was more often related to infection as an immediate cause and malignancy as the basic cause.

Yvelise Terezinha Morato da Conceição

Dissertação apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para obtenção do Título de Mestre.

São Paulo, SP, Brasil, 1996.
Recebido para publicação em 06/04/98.