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Vacinação contra febre amarela nas áreas não endêmicas do Brasil

DOI: 10.1590/S0037-86821998000600022


Objetivo. Estudar a necessidade e viabilidade de vacinar contra febre amarela a população das áreas indenes.

Data: 25/05/98

Local: INCQS/FIOCRUZ, em Biomanguinhos, Rio de Janeiro, RJ.

Participantes:

Aluízio Prata: Faculdade de Medicina do Triângulo Mineiro/MG

Bernardus Ganter: Assessor do Programa Ampliado de Imunizações/OPAS/DF

Diana Maul de Carvalho: Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ

Disney Antezana: Secretaria Estadual de Saúde/DF

Elizabeth de Albuquerque: Programa Nacional de Imunizações (PNI)

Félix Rosenberg: Diretor do Instituto de Controle de Qualidade de Saúde/FIOCRUZ/RJ

Henrique Guerra: Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte/MG

Hermann Schatzmayr: Chefe do Departamento de Virologia/FIOCRUZ/RJ

Jarbas Barbosa da Silva Júnior: Diretor do CENEPI/FNS

Jarbas E. dos Santos: INCQS/FIOCRUZ

José Cássio de Moraes: Diretor do Centro de Vigilância Epidemiológica/SP

Maria da Glória Lima Cruz Teixeira: Universidade Federal da Bahia/BA

Maria de Lourdes Maia: Programa Nacional de Imunizações (PNI)

Paulo Eduardo Guedes Sellera: Secretário Executivo do PEAa/FNS

Pedro Tauil: Subchefe do Departamento de Saúde Coletiva/DF

Reinaldo de Menezes Martins: Acessor do Programa de Imunizações, Rio de Janeiro/RJ

Sandra Regina da Silva: Técnica da Secretaria Executiva do PEAa/FNS/DF

Zouraide Guerra Antunes Costa: Gerência Técnica de Febre Amarela e Dengue/FNS.

 

A apresentação da situação epidemiológica da febre amarela silvestre no Brasil apontou para o risco de reurbanização da doença, considerando os seguintes fatores:

1. As áreas enzoótica e epizoótica de febre amarela silvestre correspondem a 75% do território brasileiro.

2. Nessas áreas residem cerca de 34.500.000 habitantes, muitos deles não imunizados contra febre amarela, constituindo fontes de infecção para o vírus amarílico.

3. As coberturas vacinais não são homogêneas, uma vez que um percentual considerável dos municípios destas áreas não atingiu as metas estabelecidas (vacinar 95% da população suscetível), portanto não se tem a certeza de que população esteja protegida contra o risco de adoecer.

4. O Aedes aegypti, vetor urbano da febre amarela, está presente em todos os estados, muitas vezes fazendo superposição com áreas de circulação do vírus amarílico.

5. A presença do Aedes albopictus já foi detectada em alguns estados da área enzoótica, muito embora não se saiba exatamente a importância epidemiológica que esse fato possa representar. Por sua ampla valência ecológica, ocupando criadouros tanto no ambiente rural quanto nos espaços urbanos, presume-se que possa servir de ponte entre os ciclos silvestre e urbano da doença. Considerando a gravidade da situação e o risco cada vez maior de urbanização da febre amarela, o grupo optou, de forma consensual, pela vacinação de toda a população brasileira, inclusive a população residente na área indene.

Vários pontos foram considerados para se proceder ao controle da doença no Brasil, objetivando impedir a ocorrência de febre amarela urbana e manter sob controle a febre amarela silvestre.

Estratégias de trabalho

Fortalecer a vigilância epidemiológica da febre amarela

1.1 Ampliar a sensibilidade da definição de caso suspeito de febre amarela.

1.2 Fortalecer os sistemas de indentificação dos eventos que podem indicar a presença da circulação viral (epizootias e casos humanos).

1.3 Capacitar Recursos Humanos em diagnóstico clínico e vigilância epidemiológica.

1.4 Acelerar o processo de elaboração do Manual de Vigilância Epidemiológica e sua distribuição imediata para a rede.

1.5. Realizar busca ativa de casos, com a realização de inquéritos soro-epidemiológicos em áreas de ocorrência de febre amarela silvestre e investigação ampla dos casos suspeitos, com adoção das medidas de controle pertinentes.

1.6 Ampliação da rede de laboratórios de diagnóstico.

Pesquisas

O grupo entendeu que seria importante investir na área de pesquisa operacional visando ampliar o conhecimento sobre a epidemiologia e medidas de controle da febre amarela. As seguintes sugestões para a investigação foram apontadas.

2.1 Inquéritos de soroconversão para avaliação da eficácia/efetividade da vacina contra a febre amarela.

2.2 Estudos para avaliar a duração da imunidade conferida pela vacina contra febre amarela.

2.3 Estudos para avaliar a capacidade vetorial do Aedes aegypti transmitir febre amarela, utilizando vírus estocados em laboratório.

2.4 Estudos para avaliar a capacidade vetorial do Aedes albopictus.

2.5 Estudos para avaliar a possível proteção cruzada entre vacina contra febre amarela e infecção pelo vírus dengue.

2.6 Estudos para avaliar a possível mutação genética do vírus amarílico.

Sobre a vacinação

Recomendou-se que a vacinação em massa em todo o país seja iniciada rapidamente. Caso seja necessário fazer uma vacinação escalonada, as seguintes sugestões foram apontadas.

3.1 Cumprimento das metas definidas no plano de Intensificação de Vacinação para 1998.

3.2 Desenho da estratégia de vacinação para as novas áreas contempladas nesta reunião técnica:

3.2.1 Definição de áreas a serem vacinadas e população alvo:

Prioridade 1: municípios de área enzoótica ou endêmica que não foram inseridos no Plano de Intensificação de Vacinação para 1998.

Prioridade 2: municípios da área indene com infestação pelo Aedes aegypti que apresentam grande densidade populacional.

Prioridade 3: municípios de área indene com infestação pelo Aedes aegypti que apresentam menor densidade populacional.

Prioridade 4: municípios da área indene com infestação pelo Aedes albopictus.

Prioridade 5: municípios da área indene sem a presença de Aedes aegypti e Aedes albopictus.

3.3 Avaliação e acompanhamento das coberturas vacinais estratificadas por município e localidade.

3.4 Ampla mobilização social e educação em saúde.

 

Obs: Em relação à produção de vacina, a FIOCRUZ consegue produzir 100.000.000 de doses em caráter emergencial, ainda este ano.

 

3.5 Diminuição das perdas:

Mudança da apresentação para 10 doses/frasco, com substituição gradativa dos atuais frascos de 50 doses até metade de 1999.

Supervisão e treinamento para melhorar a qualidade da rede de frio.

. Capacitação de Recursos Humanas em sala de vacina.

3.6 Articulação interinstitucional (FNS-SES-SMS) para garantir a homogeneidade das coberturas vacinais intramunicipais.

3.7 Fortalecimento da execução das normas de Vigilância Sanitária sobre o deslocamento de pessoas para as áreas endêmicas.

Recebido para publicação em 15/09/98.