Home » Volumes » Volume 30 March/April 1997 » EXAME OFTALMOLÓGICO DE PACIENTES COM DOENÇA DE CHAGAS CRÔNICA EM MAMBAÍ (GO)

EXAME OFTALMOLÓGICO DE PACIENTES COM DOENÇA DE CHAGAS CRÔNICA EM MAMBAÍ (GO)

João Antonio Prata

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Doutor. São Paulo, SP, Brasil, 1996.

DOI: 10.1590/S0037-86821997000200016


Para avaliar os achados do exame oftalmológico em pacientes portadores da forma crônica da doença de Chagas foi realizado estudo prospectivo e duplo cego na região de Mambaí (GO), área endêmica da doença de Chagas. Foram examinados 269 indivíduos, sendo 131 com sorologia positiva para doença de Chagas e 138 com sorologia negativa. Nos 131 chagásicos, encontrou-se, estatisticamente significativo, anisocoria em 10 (7,6%) e pinguécula em 19 (14,6%), em contraste com anisocoria em 3 (2,1%) e pinguécula em 34 (24,6%) dos 138 não chagásicos. Nenhum caso de glaucoma crônico simples ou hipertensão intra-ocular foi detectado nos chagásicos, em comparação dois glaucomas crônicos simples e quatro hipertensões nos não chagásicos.

A análise da pupila com técnica de ampliação fotográfica, em casos sem alterações oculares capazes de influenciar no diâmetro pupilar e pareados quanto a idade, sexo e côr, revelou que o diâmetro pupilar médio foi de 4,35 ± 0,6mm nos chagásicos e 3,77 ± 0,5mm nos não chagásicos, diferença estatisticamente significativa. Após 30 minutos da instilação de colírio de pilocarpina a 0,1% o tamanho da pupila reduziu 22,2% em diâmetro e a área 36,8% nos chagásicos e 12,4% e 22%, respectivamente, nos não chagásicos. A fenilefrina a 3% instilada 30 minutos após provocou aumento estatisticamente significante do diâmetro pupilar médio de 50,2% e da área de 150,6% nos chagásicos, contra 23,6% e 56,8%, respectivamente, nos não chagásicos.

Em 83 pares, que não apresentavam alterações oculares com influência na pressão intra-ocular e pareados quanto a idade, côr e sexo, a média da pressão intra-ocular nos chagásicos foi de 13,5mmHg, significativamente menor do que a média de 14,4mmHg nos não chagásicos. Após a idade de 40 anos, os pacientes não chagásicos apresentaram uma correlação estatisticamente significante entre idade e pressão intra-ocular, o que não foi detectado nos chagásicos.

A análise dos resultados sugere alterações do sistema nervoso autônomo ocular em pacientes chagásicos.

OPHTHALMOLOGICAL EXAMINATION IN CHRONIC CHAGASIC PATIENTS IN MAMBAÍ (GO)

To evaluate ocular findings in chronic chagasic patients, a double-blind prospective study was carried on Mambaí (GO), endemic area for Chagas’ disease. 269 patients were examined. 131 individuals had positive serology for Chagas’ disease and 138 subjects had negative serology. Differences in frequency of anisocoria and pinguecula were statistically significant between groups. 10 (7.6%) chagasic patients had anisocoria and 19 (14.6%) had pinguecula. 3 (2.1%) and 34 (24.6%) non chagasic subjects had anisocoria and pinguecula respectively. In the chagasic group, chronic simple glaucoma or intraocular hypertension were not detected on the other hand, among non chagasic there were two chronic simple galucomas and four ocular hypertensions. This diferences were statistically significant (P = 0.03).

Pupil examination using photographic ampliantion were studied in patients without ocular abnormalities capable of influencing pupilar diameter and paired according age, sex and skin color. Mean pupilar diameter was 4.35 ± 0.6mm for chagasic patients and 3.77 ± 0.5mm for non-chagasics, difference statistically significant between groups. After 30 minutes of 0.1% pilocarpine eye-drops, chagasic patients had statistically greater reduction in pupilar diameter (22.2%) and in pupilar area (36.8%) than non chagasics (diameter= 12,4%; area = 22%). The administration of phenylephrine 3%, 30 minutes after, induced a statistically increase in pupilar diameter and area of 50.2% and 150.6% respectively for chagasic patients and 23.6% and 56.8% for non chagasics.

Intraocular pressure was analysed between groups in 83 pairs selected according age, sex and skin color, that did not had ocular abnormalities capable of influencing intraocular pressure and. Mean intraocular pressure was 13,5mmHg for chagasics and 14,4mmHg for non chagasics. The differences were statistically significant. After the age of 40, non-chagasic patients had a statistically direct correlation between age and intraocular pressure that was not detected for chagasic patients.

The results suggest ocular autonomic nervous system alteration in chagasic patients.

 

 

João Antonio Prata

Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo-Escola Paulista de Medicina para obtenção do Título de Doutor. São Paulo, SP, Brasil, 1996.
Recebido para publicação em 17/01/97.