Home » Volumes » Volume 26 January/March 1993 » Aspectos clínicos, sociais e trabalhistas da doença de Chagas em área endêmica sob controle do Estado de Minas Gerais, Brasil

Aspectos clínicos, sociais e trabalhistas da doença de Chagas em área endêmica sob controle do Estado de Minas Gerais, Brasil

João Carlos Pinto Dias

DOI: 10.1590/S0037-86821993000200005


RESUMO

Candidatos a emprego em construção civil na região de Bambuí, MG, submeteram-se a sorologia para doença de Chagas, eletrocardiograma e Rx de tórax e esôfago. De 301 candidatos recentes uma prevalência de 11,6% de infecção chagásica foi detectada, sendo 5,0% no grupo etário de 18-29 anos, 13,8% no de 30-39 e 39,4% no de 40 anos e acima. A ocorrência de ECGs alterados foi de 31,3% no grupo soropositivo contra 7,1% nos soronegativos (p < 0,05) enquanto o aumento de área cardíaca foi de 8,6% e de 1,5% (p < 0,05) e alteração no trânsito esofágico de 8,6% e 0,8% (p < 0,05) respectivamente. Chagásicos e não-chagásicos provinham das mesmas regiões, sendo os grupos comparáveis quanto a origem rural, morte súbita na família, doação e recepção de sangue. O grupo chagásico apresentou significativamente maior proporção de indivíduos com antecedentes de trabalho na lavoura (48,6% contra 19,5%) e de indivíduos analfabetos ou com primário incompleto (43,8% contra 19,5%), frente aos não-chagásicos. Os detalhamentos da pesquisa indicam que o contínuo controle do vetor na região tem sido extremamente eficaz, com impacto sobre a prevalência e a morbidade da esquizotripanose. Por outro lado, indicam que os mecanismos transfusional e congênito de transmissão do Trypanosoma cruzi ao homem continuam a apresentar importância mínima na área pesquisada.

Palavras-chave: Doença de Chagas. Trabalho. Morbidade. Controle.


ABSTRACT

Among 301 construction workers examined in Bambuí, Brasil, 11.6% presented positive serology for American trypanosomiasis, with aprevalence of 5.0% in the age group 17-29 years, 13.8% in the 30-39 and 39.4% in the 40-57. Electrocardiographic disturbances were detected in 31.3% of the seropositive and in 7.1% of the seronegative individuals, with a significant difference in the age group 40-57 years. Cardiac enlargement and oesophagopathy were detected respectivety in 8.6% and 8.6% of the positive and 1.5% and 0.8% of the negative group. Chagasic and non-chagasic individuals came from the same region and social status, but the seropositive group was more associated with low scholar ship and immediate antecedent of rural activities. The effectiveness of the programme of vector control installed in the Region in the years 1970 is once more confirmed by its positive impact on the prevalence and morbidity of human Chagas disease. Congenital and transfusional Chagas disease seem to play a very small epidemiologic role in the Region at the present time.

Keywords: Chagas disease. Work. Morbidity. Control.


 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Coura JR, Abreu LL, Dubois LEG, Lima FC, Arruda Jr E, Willcox HPF, Anunziato N, Petana W. Morbidade da doença de Chagas. II – Estudos seccionais em quatro áreas de campo no Brasil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 79:101-124, 1984.         [ Links ]

2. Dias E. Doença de Chagas, um problema americano. Hospital 55:57-65, 1959.         [ Links ]

3. Dias E. Profilaxia da doença de Chagas. Jornal Brasileiro de Medicina 1:939-954, 1959.         [ Links ]

4. Dias JCP. Prevalência da doença de Chagas entre crianças da zona rural de Bambuí, MG, após ensaio profilático. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 19:135-159, 1967.         [ Links ]

5. Dias JCP. Doença de Chagas em Bambuí, Minas Gerais, Brasil. Estudo clínico e epidemiológico a partir da fase aguda, entre 1940 e 1982. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1982.         [ Links ]

6. Dias JCP. Control of Chagas disease in Brazil. Parasitology Today 3:336-341, 1987.         [ Links ]

7. Dias JCP. Doença de Chagas: ClínicaeTerapêutica. SUCAM, Ministério da Saúde, Brasília, 1989.         [ Links ]

8. Dias JCP. Epidemiology of Chagas disease. In: Wendel S, Brener Z, Camargo ME, Rassi A (eds) Chagas disease (American trypanosomiasis): its impact on transfusion and clinical medicine. Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, São Paulo p.49-80, 1992.         [ Links ]

9. Dias JCP, Camacho LAB, Silva JC, Magalhães JS, Krieger H. Esofagopatia chagásica na área endêmica de Bambuí, MG, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 16:46-57, 1983.         [ Links ]

10. Faria CAF. Ergometria na avaliação clínica da doença de Chagas crônica. In: Cançado JR, Chuster M (eds) Cardiopatia chagásica, Fundação Carlos Chagas, Belo Horizonte p.223-254, 1985.         [ Links ]

11. Goldbaum M. Saúde e Trabalho. A doença de Chagas no setor industrial. Tese. Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1981.         [ Links ]

12. Haddad N, Godoy RA. Valor da medida do tempo de trânsito esofágico como meio de diagnóstico precoce da disperistalse de esôfago em indivíduos chagásicos. Revista Goiana de Medicina 9:45-60, 1963.         [ Links ]

13. Laranja FS, Dias E, Duarte E, Pellegrino J. Observações clínicas e epidemiológicas sobre a moléstia de Chagas no Oeste de Minas Gerais. Hospital 40:945-988, 1951.         [ Links ]

14. Laranja FS, Dias E, Nóbrega GC, Miranda A. Chagas’ disease: a clinical, epidemiologic and pathologic study. Circulation 14:1035-1060, 1956.         [ Links ]

15. Rezende JM. Clínica: manifestações digestivas. In: Brener Z, Andrade Z (eds) Trypanosoma cruzi e doença de Chagas. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro p.313-361, 1979.         [ Links ]

16. Schmuniz GA. Trypanosoma cruzi, the etiologic agent of Chagas disease: status in the supply in endemic and nonendemic countries. Transfusion 31:547-557, 1991.         [ Links ]

17. Schofield CJ, Dias JCP. A cost-benefit analysis of Chagas disease control. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 86:285-295, 1991.         [ Links ]

18. Rocha eSilva EO. Profilaxia. In: Brener Z, Andrade Z (eds) Trypanosoma cruzi e doença de Chagas, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro p.425-449, 1970.         [ Links ]

19. Silva GR, LitvocJ, Goldbaum M, Dias JCP. Aspectos da epidemiologia da doença de Chagas. Ciência e Cultura 31(supl.):81-103, 1979.         [ Links ]

20. Souza AG, Wanderley DMV, Buralli GM, Andrade JCR. Consolidation of the control of Chagas’ disease vectors in the State of São Paulo. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 79(supl.): 125-132, 1984.         [ Links ]

21. Tinoco DL. Prevalência da doença de Chagas. Confirmação do diagnóstico pelo immunoblot. Tese. Universidade de Brasília, Brasília, 1982.         [ Links ]

22. World Health Organization. Control of Chagas disease. Report of a WHO Expert Committee. Geneva. WHO Technical Report Series 811, 1991.         [ Links ]

23. Zicker F, Oliveira RM, Luquetti AO, Oliveira OS, Smith PG. Seroprevalence of Trypanosoma cruzi infection among unskilled urban workers in central Brazil. Transactions of the Royal Society of Tropical Medicine and Hygiene 83:511-513, 1989.         [ Links ]

 

 

 Endereço para correspondência:
Dr. João Carlos Pinto Dias.
Depto. de Clínica Médica.
Centro de Pesquisas René Rachou/ FIOCRUZ.
Caixa Postal: 1743
30161-970
Belo Horizonte, MG, Brasil.
Fax: (031) 295-3115.

 

 

Recebido para publicação em 12/02/93.

 

 

Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.