Home » Volumes » Volume 19 July/September 1986 » Morbidade da doença de Chagas. Estudo seccional em uma área endêmica, Virgem da Lapa, Minas Gerais

Morbidade da doença de Chagas. Estudo seccional em uma área endêmica, Virgem da Lapa, Minas Gerais

José Borges Pereira; José Rodrigues Coura

DOI: 10.1590/S0037-86821986000300003


RESUMO

De janeiro a abril de 1982 foi desenvolvido um estudo seccional sobre a morbidade da doença de Chagas humana na área urbana do município de Virgem da Lapa, nordeste de Minas Gerais, Vale do Jequitinhonha.
A prevalência da infecção chagásica avaliada através da reação de imunofluorescência indireta em sangue colhido em papel de filtro foi de 12,6%, em uma amostra de 2.787 pessoas residentes. O índice da infecção foi mais elevado no grupo de mulheres (p < 0,001) em relação ao de homens; aumentou progressivamente com a idade até a quinta década da vida, a partir da qual se estabilizou.
Os exames clínico, eletrocardiográfico e radiológico de 255 chagásicos crônicos, pareados por idade e sexo com igual número de não chagásicos-controles, revelaram as formas clínicas da doença nas seguintes freqüências: 118 (46,3%) na forma indeterminada, 109 (42,7%) na cardíaca, 19 (7,5%) na mista (cardiopatia + megaesôfago) e 9 (3,5%) na digestiva (megaesôfago).
A positividade global em 90 xenodiagnósticosfoi de 36,7%, com predomínio entre os pacientes do sexo masculino e na forma clínica indeterminada.

Palavras-chave: Doença de Chagas. Morbidade. Estudo seccional. Cardiopatia. Megaesôfago.


ABSTRACT

From January to April 1982 a cross sectional study of the morbidity of human Chagas’disease was carried out in the urban area of the municipality of Virgem da Lapa, in Northeast Minas Gerais State, in the Valley of Jequitinhonha.
The prevalence of the chagasic infection evaluated by the indirect immunofluorescent test in blood collected on filter paper was 12.6% in 2.787samples. The infection rate was higher in women than in men (p < 0.001) and the general prevalence of the infection increased progressively up to the fifth decade after which it stabilised.
The clinical, electrocardiographical and radiological examinations in 255 chronic chagasics paired by age and sex with the same number of non- chagasic persons from the same area, showed the following clinical forms in chagasics: 118 (46.3%) with the indeterminate form, 109 (42.7%) with the cardiac form, 19 (7.5%) mixed form (cardiac and megaesophagus), and 9(3.5%) with megaesophagus.
Xenodiagnoses were positive in 36.7% of the cases, with a predominance in males with the indeterminate clinical form.

Keywords: Chagas’ disease. Morbidity. Cross-sectional study. Cardiopathy. Megaesophagus.


 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Abreu LL. Doença de Chagas: estudo da mortalidade no Município de Pains, Minas Gerais. Tese de Mestrado. Universidade.Federal do Rio de Janeiro, RJ, 1977.         [ Links ]

2. Alcantara A, Baruffa G, Aquino Neto JO, Olintho A, Savoldi T, Lassen C. Epidemiologia da doença de Chagas no RS – Revisão de pacientes após 10 anos de evolução. I – Metodologia. II – Grupo chagásico. III – Grupo controle. In: Resumo XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Rio de Janeiro, p. 35-36, 1983.         [ Links ]

3. Alecrim WD, Castro CN, Rezende JM, Macêdo V, Prata A. Estudo da dinâmica esofágica entre duas áreas endêmicas da doença de Chagas. In: Resumo XIII Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Brasília, p. 24, 1977.         [ Links ]

4. Arruda Jr ER. Estudo sobre a doença de Chagas nos municípios de Aguiar e Boqueirão, Vale do Piancó, Estado da Paraíba. Tese de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ, 1981.         [ Links ]

5. Baruffa G, Aquino Neto JO, Alcantara A, Bettini VN, Bertinetti ES. Dados preliminares de inquérito sorológico e eletrocardiográfico para a doença de Chagas em populações rurais não selecionadas da zona Sul do Rio Grande do Sul. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 6: 362-363, 1972.         [ Links ]

6. Baruffa G, Alcantara A. Prevalência sorológica da doença de Chagas em cinco municípios da zona Sul do Rio Grande do Sul. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 16: 140-144. 1974.         [ Links ]

7. Baruffa G. Prevalência sorológica da doença de Chagas e correlação sorológica-eletrocardiográfica em populações não selecionadas do município de Encruzilhada do Sul do Rio Grande do Sul. Revista da Sociedade de Medicina Tropical 9: 95-104, 1975.         [ Links ]

8. Batista SM, Santos UM. Antígeno metílico de cultura de Schizotrypanum cruzi. Hospital 56: 1045-1051, 1959.         [ Links ]

9. Benchimol AB, Schlesinger P, Cotrim MR. A cardiopatia chagásica crônica observada na cidade do Rio de Janeiro. Estudo de 32 casos. Medicina-Cirurgia-Farmácia 2/3: 5-30, 1954.         [ Links ]

10 Benchimol AB. O eletrocardiograma na miocardite chagásica crônica. Boletim da Academia Nacional de Medicina 133:9-51, 1962.         [ Links ]

11. Brant TC, Laranja FS, Bustamante FM, Mello AL. Dados sorológicos e eletrocardiográficos obtidos em população não selecionada de zonas endêmicas de doença de Chagas no Estado do Rio Grande do Sul. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 9: 141-148, 1957.         [ Links ]

12. Brasil A. A mutabilidade eletrocardiográfica na cardiopatia chagásica crônica. Revista da Associação Médica de Minas Gerais 4: 149-152, 1953.         [ Links ]

13. Brasil A. Evolução e prognóstico da doença de Chagas. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 18: 365-380,1965.         [ Links ]

14. Camargo ME. Fluorescent antibody test for the serodiagnosis. Technical modification employing preserved culture forms of Trypanosoma cruzi in slide test. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 8: 227-34, 1966.         [ Links ]

15. Camargo ME, Shimizu SH, Siqueira GVR. Hemagglutination with preserved, sensitized cells, a practical test for routine serologic diagnosis of American Trypanosomiasis. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 15: 81-85, 1973.         [ Links ]

16. Castro CN. Influência da parasitemia no quadro clínico da doença de Chagas. Revista de Patologia Tropical 9:73-136, 1980.         [ Links ]

17. Chagas C. Nova tripanozomiaze humana. Estudo sobre a morfologia e o ciclo evolutivo do Schizotrypanum cruzi. n. gen., n. sp. ajente etiolójico de nova entidade mórbida do homem. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 1: 159-218, 1909.         [ Links ]

18. Chagas C. Tripanosomíase americana: forma aguda da moléstia. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 8: 37-60, 1916.         [ Links ]

19. Chagas C, Villela E. Forma cardíaca da tripanosomíase americana. Revista de Biologia e Higiene 5: 5-61,1922.         [ Links ]

20. Chapadeiro E. Histopatologia cardíaca da forma indeter-minada da doença de Chagas. Anais do Congresso Internacional Sobre Doença de Chagas, Rio de Janeiro, 1979.         [ Links ]

21. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. Epidemiologia da doença de Chagas. Objetivos e métodos dos estudos longitudinais. Relatório Técnico no 1, 1974.         [ Links ]

22. Correia-Lima FG. Doença de Chagas no Município de Oeiras – PI. Estudo seccional nas localidades de Colonia e Oitis. Tese de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1976.         [ Links ]

23. Coura JR. Contribuição ao estudo da doença de Chagas no Estado da Guanabara. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 18: 9-98, 1966.         [ Links ]

24. Coura JR, Abreu LL, Dubois LG, Correia-Lima FG, Willcox HPF, Figueiredo PZ. Estudo seccional sobre a doença de Chagas em 3 diferentes áreas endêmicas no Brasil. Anais do Congresso Internacional Sobre Doença de Chagas p. 41, 1979.         [ Links ]

25. Cunha GP, Oliveira PF. Síndromes clínicas na cardiopatia chagásica crônica. Hospital 57: 71-93, 1960.         [ Links ]

26. Dias E. Acerca de 254 casos de doença de Chagas comprovados em Minas Gerais. Brazil Médico 60: 41-44, 1946.         [ Links ]

27. Dias JCP. Prevalência da doença de Chagas entre crianças da zona rural de Bambuí-MG, após ensaio profilático. Revista Brasileira de Malariologia e Doenças Tropicais 19: 135-159, 1967.         [ Links ]

28. Dias JCP, Kloetzel K. The prognostic value of the electrocardiographic features of chronic Chagas’disease. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 10: 158-162, 1968.         [ Links ]

29. Dias JCP. Doença de Chagas em Bambuí, Minas Gerais, Brasil. Estudo clínico epidemiológico a partir da fase aguda, entre 1940 e 1982. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Minas Gerais, 1982.         [ Links ]

30. Dias JCP, Camacho LAB, Silva JC, Magalhães JS, Krieger H. Esofagopatia chagásica na área endêmica de Bambuí-MG, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 16:46-47, 1983.         [ Links ]

31. Dubois LG. Morbidade da doença de Chagas. Estudo seccional em uma área endêmica. Tese de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1977.         [ Links ]

32. Godoy RA, Vieira CB. Diagnóstico da esofagopatia chagásica crônica assintomática não ectásica. Revista Goiana de Medicina 9: 117-124, 1963.         [ Links ]

33. Koeberle F. Patologia da forma digestiva. Anais do Congresso Internacional sobre Doença de Chagas, 1979.         [ Links ]

34. Kloetzel K, Dias JCP. Mortality in Chagas’disease: life table for the period 1949-1967 in an unselected population. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo 10: 5-8, 1968.         [ Links ]

35. Laranja FS, Dias E, Nóbrega GC. Clinica e terapêutica da doença de Chagas. Revista Brasileira de Medicina 5: 26p. 1948.         [ Links ]

36. Laranja FS, Dias E, Nóbrega GC, Miranda A. Chagas’disease. A clinical, epidemiologic and pathologic study. Circulation 14: 1035-1060, 1956.         [ Links ]

37. Lauar KM, Oliveira R, Rezende JM. Valor do tempo de esvaziamento esofagiano no diagnóstico da esofagopatia chagásica (prova de retenção). Revista Goiana de Medicina 5: 97-102, 1959.         [ Links ]

38. Lopes ER, Chapadeiro E, Almeida HO, Rocha A. Contribuição ao estudo da anatomia patológica dos corações de chagásicos falecidos subitamente. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 9: 269-282, 1975.         [ Links ]

39. Macèdo V. Influência da exposição à reinfecção na evolução da doença de Chagas (estudo de cinco anos). Revista de Patologia Tropical 5: 33-116, 1976.         [ Links ]

40. Macêdo V, Prata A, Rodrigues da Silva G, Castilho E. Prevalência de alterações eletrocardiográficas em chagásicos (informações preliminares sobre o inquérito eletrocardiográfico nacional). Arquivos Brasileiros de Cardiologia 38: 261-264, 1982.         [ Links ]

41. Maguire JH, Mott KE, Hoff R, Guimarães A, Franca JT, Souza JAA, Ramos NB, Sherlock IA. A three-year foliow-up study of infection with Trypanosoma cruzi and electrocardiographic abnormalities in a rural community in Northeast Brazil. American Journal of Tropical Medicine and Hygiene 31: 42-47, 1982.         [ Links ]

42. Maguire JH, Mott KE, Lehman JS, Hoff R, Muniz TM, Guimarães AC, Sherlock IA, Morrow RH. Relationship of electrocardiographic abnormalities and seropositivity to Trypanosoma cruzi in a rural community in Northeast Brazil. American Heart Journal 105: 287-294, 1983.         [ Links ]

43. New York Heart Association (NYHA). Nomenclature and criteria for diagnosis of disease of the heart and great vessels. 7thed. Little and Brow Company, Boston, 1973.         [ Links ]

44. Organização Mundial da Saúde – Organização Panamericana da Saúde (OMS/OPS). Aspectos de la enfermedad de Chagas. Informe de una reunión conjunta OMS/OPS de investigadores. Boletin de la Oficina Sanitária Panamericana 76: 141-185, 1974.         [ Links ]

45. Pereira JB, Coura JR. Aspectos da transmissão da doença de Chagas no município de Virgem da Lapa, Minas Gerais. In: Resumo XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. Rio de Janeiro, p. 19, 1983.         [ Links ]

46. Pereira JB, Coura JR. Letalidade pela doença de Chagas em uma área endêmica com transmissão interrompida. In: Resumo XIX Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Rio de Janeiro, p. 20, 1983.         [ Links ]

47. Prata A. Prognóstico e complicações da doença de Chagas. Revista Goiana de Medicina 5: 87-96, 1959.         [ Links ]

48. Prata A. Natural history of chagasic cardiomyopathy. In: American Trypanosomiasis Research. Symposium PAHO/WHO. Scientific Publication no 318, Washington, p. 191-193, 1976.         [ Links ]

49. Pondé A. A cardiopatia crônica da doença de Chagas. Revista Goiana de Medicina 1: 27-70, 1948.         [ Links ]

50. Porto CC. Etiologia das cardiopatias em Araguari (Triângulo Mineiro). Estudo da influência das condições sócio-econômicas e culturais. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 15: 59-68, 1962.         [ Links ]

51. Porto CC. O eletrocardiograma no prognóstico e evolução da doença de Chagas. Arquivos Brasileiros de Cardiologia 17: 313-346, 1964.         [ Links ]

52. Puigbó JJ, Rhode JRN, Barrios HG, Yepez CG. Clinical and epidemiological study of chronic heart involvement in Chagas’disease. Bulletin World Health Organization 34: 655-669, 1966.         [ Links ]

53. Puigbó JJ, Rhode JRN, Barrios HG, Yepez CG. Cuatro anos de estúdio longitudinal de una comunidad rural con endemicidad chagasica. Boletin de la Oficina Sanitaria Panamericana 66: 112-120, 1969.         [ Links ]

54. Rassi A, Carneiro O. Estudo clinico, eletrocardiográfico e radiológico da cardiopatia chagásica crônica. Revista Goiana de Medicina 2: 287-296, 1956.         [ Links ]

55. Rezende JM, Rassi A. Comprometimento do esôfago na moléstia de Chagas. Megaesòfago e cardiopatia. Hospital 53: 1-15, 1958.         [ Links ]

56. Rezende JM, Oliveira R, Lauar KM. Aspectos clínicos e radiológicos da aperistalsis do esôfago. Revista Brasileira de Gastrenterologia 12: 247-262, 1960.         [ Links ]

57. Sheps MC. An examination of some methods of comparing several rates of proportions. Biometrics 15: 87-97, 1959.         [ Links ]

58. Souza SL, Camargo ME. The use of filter paper blood smears in a practical fluoresoent test for American trypanosomiasis serodiagnosis. Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Páulo 8: 255-258, 1966.         [ Links ]

59. Torres MCA. Estudo do miocárdio na moléstia de Chagas (forma aguda). Alterações das fibras musculares cardíacas. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 9: 114-139, 1917.         [ Links ]

60. Torres CAM. Tripanosomíase americana e a sua anatomia patológica. Folha Médica 4: 259, 1923.         [ Links ]

61. Viana G. Contribuição para o estudo da anatomia patológica da “Moléstia de Carlos Chagas” (Esquizotripanoze humana ou tireodite parazitaria). Memórias do Instituto Oswaldo Cruz 3: 276-296, 1911.         [ Links ]

 

 

Recebido para publicação em 12/9/85.

 

 

Departamento de Medicina Tropical do Instituto Oswaldo Cruz.
Financiado pelo CNPq (PIDE) e FINEP.