Home » Volumes » Volume 10 July/August 1976 » Profilaxia ecológica fitoquímica da Ancilostomose e Estrongiloidose

Profilaxia ecológica fitoquímica da Ancilostomose e Estrongiloidose

Enio Garcia GoulartI; Myriam Cazarie JourdanII; Reginaldo Peçanha BrazilII; Beatriz Gomes BrazilIII; Alexandre Elias CosendeyIII; Marion BarIII; Emane Catroli do CarmoIII; Benjamin GilbertIV

IProfessor Adjunto do Departamento de Parasitologia do ICB IIAuxiliares de Ensino do Departamento de Parasitologia do ICB IIIBolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico IVProfessor Colaborador do CPPN do Departamento de Bioquímica do ICB

DOI: 10.1590/S0037-86821976000400002


RESUMO

Os Autores, após terem demonstrado no laboratório a atividade “in vitro” de 119 produtos naturais de origem vegetal no bloqueio da evolução externa de Ancilostomídeos e S. stercoralis, pesquisaram a aplicação prática da Profilaxia ecológica fitoquímica das respectivas endemias parasitárias.
A investigação foi realizada em dois grupos populacionais de favelados da Ilha do Governador (Rio de Janeiro, Brasil), ao longo de 26 meses de intenso trabalho que compreendeu: 1) seleção e levantamento demográfico das áreas; 2) inquérito geral para determinação da incidência parasitária; 3) introdução dos vegetais ativos em uma das áreas, ficando a outra como controle; 4) tratamento em massa de ambas as populações, repetido 10 meses depois; 5) três controles epidemiológicos, após cada tratamento e a intervalos constantes de 60 a 70 dias, para verificação das reinfestações e do confronto final da prevalência das helmintoses nas duas áreas. Das plantas introduzidas somente se adaptou o C. citratus que atingiu uma concentração média de uma touceira por 10 m2.
Os níveis de ancilostomose cairam na área plantada de 23,2% para 2,2% e na área controle de 14,5% para 5,8%, durante o período de 21 meses da investigação. A estrongiloidose desceu de 17,1% para 0,6% na área tratada fitoecologicamente e de 13,0% para 2,9% na área controle. Da população inicialmente examinada, 46% foram acompanhados até o término da experiência. A redução da prevalência de ancilostomídeos, 30,5% superior na área plantada, é considerada estatisticamente significativa e, portanto, o novo método profilático válido e viável. Para conclusão definitiva, já teve início uma pesquisa comparada, sob rigorosas condições de controle.
Tudo indica que o método ora instituído, pioneiro na literatura mundial, seja de grande valor profilático reduzindo sensivelmente a prevalência, após tratamento em massa das populações, nas áreas endêmicas. Pelas suas características, tais como aceitação popular, pequeno custo operacional e, sobretudo, obtenção de resultados a curto prazo, será altamente oportuno, considerando-se que os recursos convencionais são baseados na educação e engenharia sanitárias, cujos resultados são obtidos a médio e longo prazos e sempre dependentes de cada indivíduo.
Além da aplicação médico-sanitária, a presente pesquisa poderá estabelecer possibilidades na profilaxia de certas fitonoses e zoonoses de grande importância econômica na agropecuária.


ABSTRACT

The previously reported activity of natural products of plant origin which inhibit the external larval evolution of Ancylostomidae and of Strongyloides stercoralis, has now been applied in the pratical ecological prophylaxis of human parasitic disease.
The study was made in two populations of low economic level inhabiting shanty towns on the Ilha do Governador, Rio de Janeiro, Brasil. During 26 months the following phases were completed: 1 – selection and census ofeach area; 2 – parasitological survey; 3 – mass treatment of both populations with the anthelminthics pyrantel pamoate and thiabendazole, this treatment repeated 10 months later; 4 – introduction of plants with parasitic inhibitory activity in one area, leaving the other as control; 5 – three epidemiological Controls, one after each treatment and then at intervals of 60 to 70 days to determine the prevalence and reinfection leveis of the two parasites in each area. Of the plants introduced only lemon-grass, Cymbopogon citratus, survived and attained an average density of one dump per 10 m2.
Ancylostomiasis levels fell in the plantedarea from 23.2% to 2.2% and in the control are from 14.5% to 5.8% during the twenty-one month study. Strongyloidiasis fell from 17.1% to 0.6% in the planted area, and from 13% to 2.9% in the control area. 46% of the initially examined populations were followed through to the end. The reduction in prevalence of hookworms, 30.5% higher in the planted area, is considered statistically significant, and the method therefore valid and viable. Supporting evidence is being sought in a parallel experiment with animais where complete control is possible.
The method, apparently novel, seems of value in the reduction of reinfection after mass treatment in endemic areas. It is popularly acceptable, cheap and produces quick results and may bridge the gap until definitive measures such as sanitary education and engineering produce their longer term solution.
In addition to the medicai and sanitary application, the results presented suggest applications in the veterinary and phytosanitary fields.


 

 

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ASPLUND, R.O. – Monoterpenes: relationship between structure and inhibition of germination. Phytochemistry, 7:1995-7, 1968.         [ Links ]

2. BAKER, P.M.; FORTES, C.C.; FORTES, E.G.; GAZZINELLI, G.; GILBERT, B.; LOPES, J.N.C.; PELLEGRINO, J.; TOMASSINI, T.C.B. & VICHNEWSKI, W. – Chemoprophylactic agents in Schistosomiasis; eremanthine, costunolide, alfacyclocostunolide and bisabolol. J. Pharm. Pharmacol., 24: 853-857, 1972.         [ Links ]

3. BULOCK, J.D. – Polyacetylenes and related compounds in nature – in Cook, J.W. and Carruthers, W. – Progress in Organic Chemistry, 6:116-119, 1964.         [ Links ]

4. CAMPBELL, W.C. & CUCKLER, A.C. – The prophylactic effect of topically applied cedar wood oil on infection with S. mansoni in mice. Am. J. Trop. Med. & Hyg., 70:712, 1961.         [ Links ]

5. ERDTMAN, H. & NORIN, T. – The chemistry of order Cupressales – em Zechmeister, L. – Fortschritte der Chem. Org. Naturstoffe, 24:212, 1966.         [ Links ]

6. GILBERT, B.; SOUZA, J.P.; FOTES, C.C.; SANTOS FILHO, D.; SEABRA, A.P.; KlTAGAWA, M. & PELLEGRINO, J. – Chemoprophylactic agents in Schistosomiasis: active and inactive terpenes. J. Parasitology, 56:397-398, 1970.         [ Links ]

7. GILBERT, B.; MORS, W.B.; BAKER, P.M.; TOMASSINI, T.C.B.; GOULART, E.G.; HOLANDA, J.C.; COSTA, J.A.R.; LOPES, J.N.C.; SANTOS FILHO, D.; SARTI, S.J.; TURCO. A.M.T.; VICHNEWSKI, W.; LOPES. J.L.C.; TH AM ES, A.W.; PELLEGRINO, J. & KATZ, N. – A atividade anti-helmíntica dos óleos essenciais e de seus componentes químicos. Anais da Academia Bras. de Ciências, 44 (suplemento): 423, 1972.         [ Links ]

8. GOULART, E.G.; SILVA, W.R.K.; MARTINS, M.S. & MORAES, D.S. – Positividade e negatividade nos exames coproscópicos de portadores de enteroparasitos. Rev. Bras. Med., 24: 720-723, 1967.         [ Links ]

9. GOULART, E.G.; HOLANDA, J.C.; COSTA. J.A.R.; GILBERT, B.; SANTOS FILHO, D.; TURCO, A.M.T. & LOPES, J.L.C. – Inibição da evolução externa de S. stercoralis e ancilostomídeos por produtos naturais. Rev. Bras. Med., 29:14-16, 1972.         [ Links ]

10. GOULART, E.G.; HOLANDA, J.C.; COSTA, J.A.R.; GILBERT, B.; BAKER, P.M.; SARTI, S.J.; SANTOS FILHO, D.; LOPES, J.L.C.; VICHNEWSKI, W.; TURCO, A.M.T.; LOPES, J.N.C. & THAMES, A.W. – Atividade anti-helmíntica de óleos essenciais – Trabalho apresentado na XXIV Reunião Anual da SPBC, julho 1972.         [ Links ]

11. GOULART, E.G.; COSTA, J.A.R.; BRAZIL, R.P.; GILBERT, B.; LOPES, J.N.C.; SARTI, S.J.; VICHNEWSKI, W. & THAMES, A.W. – Bloqueio da evolução extema de S. stercoralis e Ancilostomídeos por produtos naturais e sintéticos. Rev. Bras. Med. 31:303-308, 1974.         [ Links ]

12. GOULART, E.G.; BRAZIL, R.P.; COSENDEV, A.E.; GILBERT, B.; SANTOS FILHO, D.; TURCO, A.M.T. & LOPES, J.L.C. – Inibição ontogênica de S. stercoralis e Ancilostomídeos, na fase de vida livre por produtos naturais. Rev. Bras. de Farmácia, 56:39-47, 1975.         [ Links ]

13. GOULART, E.G.; COSTA, J.A.R.; BRAZIL, R.P. & GILBERT, B. – Inhibitory action of natural and synthetic products in the evolution of S. stercoralis and hook- worms. Trans. Roy. Soc. Trop. Med. Hyg., 69:168, 1975.         [ Links ]

14. MORAES, R.G.; LEITE, I.C. &GOULART, E.G. – Parasitologia Médica – Rio de Janeiro – Livraria Atheneu, 1971.         [ Links ]

15. MORS, W.B.; FASCIO, M.S.; MONTEIRO, H.H.; GILBERT, B. & PELLEGRINO, J. – Chemoprophylactic agent in Schistosomiasis: 14-15 Epoxygeranyl-geraniol. Science, 157:950, 1967.         [ Links ]

16. Pans Manual no 3 – Pest control in rice – Min. of Overseas Development, London, p. 99, 1970.         [ Links ]

17. SAKAI, O.H.K.; JONES, M.B. & LONGHRUST, W.M. – Effect of various essential oils isolated from Douglas fir needles upon sheep and deer rumen microbial activity. Appl Microbiol., 15:771-784, 1967.         [ Links ]

18. WHITTAKER, R.H. & FEENY, P.P. – Allelochemics: chemical interactions between species. Science, 171:757, 1971.         [ Links ]

 

 

Recebido para publicação em 5-7-76.

 

 

Departamento de Parasitologia e CPPN do Instituto de Ciências Biomédicas, CCS, UFRJ, BRASIL.