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Tratamento da leishmaniose tegumentar americana pelo niridazol

Miroslau Constante Baranski

Professor-Adjunto (docente-livre) na regência de Doenças Infectuosas e Parasitárias da Fac. Med. da Univ. Federal do Paraná

DOI: 10.1590/S0037-86821970000400004


RESUMO

Foi empregue o niridazol um derivado do nitrotiazol, em doze pacientes com leishmaniose tegumentar americana. Em todos êles, o diagnóstico clínico da doença foi confirmado pela biópsia das lesões e em oito dêles também pela positividade da intradetermorreação de Montenegro.
Oito pacientes tinham lesões mucosas metastáticas em atividade e lesões cutâneas iniciais cicatrizadas há tempo mais ou menos longo. Dois apresentavam concomitância de lesões cutâneas e mucosas em atividade, e dois tinham lesões cutâneas exclusivas. A duração da doença variou de 2 meses a 32 anos.
A posologia diária do niridazol foi uniformememente de 25 mg/kg de pêso corpóreo. O medicamento foi administrado por via oral, em duas tomadas diárias, sempre com o doente internado em hospital. Quando a tolerância o permitia, o paciente recebia cinco séries de tratamento de 10 dias de duração cada, intercaladas por períodos áe suspensão da droga de 10 dias entre uma série e outra. Isso foi possível em 10 dos 12 pacientes.
O tratamento foi bem tolerado em 5 doentes e de tolerância regular em 4. Mal tolerado em um paciente pela ocorrência de alucinações e excitação mental e interrompido pela péssima tolerância em dois doentes devido ao aparecimento de convulsões generalizadas com perda da consciência. O tratamento acompanhou-se de grande incidência, de efeitos colaterais. A ocorrência de para-efeitos mais intensos não foi devida às más condições hepáticas.
Provas de função hepática. hemogramas, estudos bioquímicos do sangue e exames de urina, realizados antes, durante e após o tratamento, não revelaram alterações significativas. Biópsias hepáticas por punção com agulha em dez doentes, prévias e posteriores ao tratamento, não detectaram lesões hepáticas que pudessem ser atribuídas à medicação.
O seguimento dos doentes prolongou-se pelo prazo de dois a 36 meses apos o tratamento. Alterações eletrocardiográficas foram detectadas em sete de oito doentes que não tinham cardiopatias concomitantes (87,5% dos casos), mas não se acompanharam de clínica relacionada com o aparelho cardiovascular.
Alterações eletroencefalográficas foram observadas em 3 de 9 doentes que foram submetidos a exames seriados.
O autor ficou decepcionado com os maus resultados terapêuticos. A droga curou as lesões cutâneas de dois dentre três doentes nos quais puderam ser completadas as cinco séries de tratamento. A temporária e aparente melhora das lesões mucosas seguiu-se sempre da sua recidiva, após o término do tratamento em todos os pacientes com lesões mucosas.
O autor conclui que o niridazol não é medicamento eficaz na terapêutica da leishmaniose tegumentar americana com lesões mucosas metastáticas tardias localizadas no nariz, boca e/ou faringe.
O autor aconselha vigilância dos doentes durante o tratamento devido à possibilidade do aparecimento de manifestações neuropsíquicas.


ABSTRACT

Niridazole, a nitrothiazole derivative, was tried in twelve patients with American cutaneous leishmaniasis. In all the patients the clinical diagnosis of the disease was confirmed by biopsy of the lesions and in eight also by a Montenegro’s positive skin test.
Eight patients had active metastatic mucosal lesions and initial skin lesions healed by a period of time more or less prolonged. Two had concomitant cutaneous and mucosal lesions in activity and two active cutaneous lesions only. The duration of the disease varied from two months to thirty tico years.
The daily dosage of niridazole was uniformly 25 mg/kg of body weight administered by oral reate, in two daily parcelated doses. The patients were always hospitalized and when postible, by tolerance of the drug, received five courses of treatment of a ten days duration each. intervaled by the supression of the drug by ten days after each course of treatment. This was possible in ten from twelve patients.
The treatment was well tolerated by five patients and regulary by four and badly tolerated in one patient due to appearance of hallucitations and mental excitement. The treatment was interrupted in two patients by the occurrence of convulsive seizure with loss of consciousness. The treatment ivas acc.om – panied by high incidence of side-effects. The anthor could not relate the more intense side-effects to bad hepatic functions.
Liver function tests, blood cells and biochernical blood studies and urinalysis were carried out in all patients before, during and after treatment and, showed no signifficant changes. Needle biopsy of the liver failed to demonstrate evidence of hepatic damage in all ten patients submitted to the study.
The follow-up period, of this therapeutic study were prolonged from two to 36 months after the end of the treatment.
Eletrocardiographic drug-related changes were observed in seven out of eight patients (87,5%) without associated cardiologic disease and were not accompanied by cardiologic clinical manifestations.
Eletroencephalographic drug-related changes were observed in three from nine patients in which the examination was performed.
Poor therapeutic results in the vatients with ulcerative mucosal lesions, were observed as the drug experimented did not heale the mucosal lesions and only healed the cutaneous lesions in two of three patients who completed five treatment courses. Temporary and incomplete healing of the mucosal lesions was followed by relapse of them, after the end of therapy in all the patients with mucosal lesions.
The author concluded that niridazole is not an effective drug in American cutaneous leishmaniasis with advanced metastatic lesions in mucous membranes of nose, mouth and/or pharynx.
The author recommends vigilant observation of the patients during treatment due to possible appearance of neuro-psyehical symptoms.


 

 

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Recebido para publicação em 26/3/1970.

 

 

Trabalho da Clínica de Doenças Infectuosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Paraná. (Departamento de Medicina Preventiva).