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Esofagopatia chagásica na área endêmica de Bambuí – M.G., Brasil1

João Carlos Pinto DiasI; Luis Antônio B CamachoII; José Cândido da SilvaII; João Soares MagalhãesII; Henrique KriegerIII

IFundação Oswaldo Cruz e Universidade Federal de Minas Gerais IIFundação Oswaldo Cruz IIIUniversidade Federal de São Carlos, SP

DOI: 10.1590/S0037-86821983000100007


RESUMO

São estudados clínica e radiologicamente 566 chagásicos crônicos não selecionados, da área endêmica de Bambuí, Minas Gerais. Utilizou-se o método do tempo de trânsito esofágico, em abreugrafias de 70 mm, incidência perfil esquerdo ou oblíqua anterior direita.
Verificou-se uma prevalência global de 8,83% de disperistalse esofágica, especialmente a partir da terceira década de vida sem diferença quanto aos sexos. Observou-se 72% de esofagopatias no grau I, 18% no grau II e 10% no grau III. Para 80 indivíduos soro-negativos verificou-se apenas um caso de disperistalse, no grau I.
Para 115 pacientes com a fase aguda da tripanossomíase detectada há 27 anos, em média, a prevalência global da esofagopatia foi de 18,3%, sendo crescente a proporção de alterações com o tempo de evolução da doença. Verificou-se diferença significativa entre estes números e a prevalência encontrada nos pacientes sem forma aguda detectada, discutindo-se se a maior proporção de esofagopatias nos indivíduos com fase aguda mais intensa não se deveria à maior desnervação ocorrida nestes casos.
Verificou-se a concomitância de cardiopatia crônica chagásica em pelo menos 50% dos casos de disperistalse de esôfago, em acordo com outros Autores. Aparentemente esta associação é mais evidente naqueles casos de esofagopatias de graus mais avançados.
Ressalta-se a simplicidade do método empregado e seu baixo custo operacional quando utilizada a abreugrafia postal, adequado portanto à realidade social das áreas endêmicas de doença de Chagas no Brasil.

Palavras-chave: Doença de Chagas. Tripanossomíase. Esofagopatia. Disperistalse. Cardiopatia chagásica. Abreugrafia.


ABSTRACT

Five hundred sixty six unselected chronic chagasic patients from an endemic area (Bambuí, Minas Gerais, Brasil) Were Studied clinical and radiologically. The oesophageal transit time method used was the roentgenphotography with 70mm film, with a left incidence profite or righ-anterior oblique aspect.
A 8.33% oesophagic dysperistalsis prevalence was verified in these patients. This was specially common after the third decade of life and no difference related to sex was observed. Seventy-two percent of oesophagic dysfunction were ofdegree I, 18% of degree II and 10% of degree III, based on the classification adapted by Rezende. Only one case of dysperistalsis (degree I) was observed among 80 sero-negative patients.
The global prevalence of oesophagopathy was 18.3% in 115 patients in whom the acute phase of Chagas’disease was detected up to 27 years before. The proportion of alterations was directly related to the disease evolution time.
A significant difference was verified between the above prevalence and the prevalence found in patients without a detectable acute phase.
his suggests that the high percentage of oesophagopathy in patients with detectable acute phase was due to a more intense denervation occurring in those cases. A concomitant chagasic chronic cardiopathy was verified in 50% of the cases disptaying oesophagus dysperistalsis, in accord with other Authors.
The simplicity of the method used for detecting oesophagus dysfunction and its low operational cost are evident, demonstrating it to be suitable for the social reality present in Chagas’disease endemic areas.

Keywords: Chagas’ disease. Americam trypanosomiasis. Oesophagopathy. Dysperistalsis. Chagasic cardiopathy 70mm film roentgenphotography.


 

 

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Recebido para publicação em 16/12/82.

 

 

1 Trabalho do Centro de Pesquisas “Emmanuel Dias , Fiocruz (Cx. Postal 29, Bambuí, MG).